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terça-feira, 6 de junho de 2017

A GERAÇÃO DE PRAGAS

Parte 23

IDASH: Amigo ou inimigo?

E.5.: 1793, 3/2 VER.
Algum lugar a nordeste de Brokenfell(grande reino dos gigantes) 

O gigantesco homem seguia viagem montado num enorme quadrúpede, com um bico que se assemelhava a uma águia e chifres interligados por uma carapaça no formato de uma tiara. Um estrondo repentino fez o animal parar num rompante. O gigante rapidamente apanhou sua clava e se pôs em guarda. Ele desceu de sua montaria e começou a andar sorrateiramente em direção ao barulho. Um barulho daquela proporção era bom investigar. Um estalar de madeira se partindo antecedeu a queda de uma enorme galha próxima do gigante indicando que já estava próximo de seja lá o que for aquilo.
Em meio a uma cratera gigantesca jazia um enorme corpo todo dilacerado. O gigante correu até ele. Katro agonizava. O corte no ombro se abriu e alem dele agora tinha um enorme furo em seu abdômen. Ele agonizava, mas não movia sequer um músculo. – deve ter tido uma batalha e tanto. E mesmo assim foi deixado para morrer de forma tão humilhante. Pobre coitado. – Pensou. O viajante o virou de lado e imediatamente ele cuspiu litros de sangue meio coalhado que o estava impedindo de respirar.
— Se afaste dele agora mesmo. – gritou Daro moribundo, quase perdendo a consciência enquanto se arrastava para perto do amigo.
— Um verme como você ousa dar ordens a um gigante depois do que fez? – vociferou o homem indignado ao ver um da sua raça naquela situação e aparentemente por causa de um pequeno. – Vou te esmagar e depois darei ao meu amigo uma morte honrada.
— Você não vai encostar um dedo sequer nele. – Daro reafirmou o compromisso com determinação.
— Continua a me dar ordens! Se fosse um gigante eu lutaria com você, mas um verme quase morto não merece tal honra. – Afirmou o gigante percebendo o estado de Daro. Virou-se para Katro pronto para dar ao compatriota uma morte digna. Ao sacar sua adaga, Daro o acertou um golpe nas costelas com o restinho de força que lhe restava jogando o gigante para longe de katro.
— Você não vai tocar um só dedo nele. – Mais uma vez Daro reafirmou o compromisso, agora se colocando entre o amigo e o viajante.
— Isso é coisa de gigantes. Não se intrometa nisso no que não é da sua conta. – vociferou o gigantesco viajante inconformado em deixar um gigante ter uma morte tão humilhante assim. Ao ver a determinação nos olhos de Daro se acalmou um pouco mais – Muito bem, terminem o seu combate, mas ouça garoto, não ouse deixar aquele gigante morrer engasgado com seu próprio sangue, acerte o coração. – Aconselhou guardando a adaga.
— Você não entendeu... – Daro exprimiu as palavras para fora – Não vou deixar que ninguém toque nele, e tampouco que ele morra. Ele é meu amigo e não morreria assim tão fácil.
O homem voltou ao semblante raivoso por um instante, mas resolveu ver o que acontecia. Ele deu de ombros e apontou para Katro estirado no chão.
— Vá em frente, mas tenha em mente que se esse gigante morrer, você também morre. – Finalizou o gigante se sentando para observar ainda com a cara fechada.
— Biiss. – Daro Gritou chamando o amigo. Imediatamente o pequeno apareceu em cima do peito de Katro, gerando um espanto no viajante.
— Por que será que ele ficou gigante dessa vez? – A criança começou a perguntar ignorando totalmente o estado de Katro.
— Você já conhece alguma magia de cura? – Questionou Daro ignorando a pergunta de Bis.
— Da outra vez ele não ficou gigante. – Bis ignorava totalmente a situação.
— Biiss. – Gritou Daro com seriedade. Bis nunca tinha visto Daro com tamanha determinação.
— O máximo que posso fazer é uma transferência de dano. O ideal seria um inimigo, mas já que não temos um no momento posso passar os danos para a outra pessoa. – Terminou sugestivamente olhando para o viajante que imediatamente segurou no cabo da adaga.
— Faça comigo.
— O que? Mas...
— Biiisss... Muitas pessoas já morreram por minha causa... Não vou permitir que ninguém mais morra por mim. Nunca mais. Façaa. – O gigante ficou pasmo ao ver a determinação de um pequeno em salvar a vida de um gigante. Os pequenos consideravam os gigantes apenas como armas de destruição há tanto tempo que até eles mesmo achavam que não tinha propósito em viver sem guerrear e mostrar que eram os melhores em causar destruição. Ver alguém tão determinado em salvar a vida de um gigante era quase que inconcebível até pra ele mesmo, e isso o fazia ficar um pouco envergonhado ao ver outra espécie mais interessada na vida de um gigante do que um de sua própria espécie. – Quem é esse garoto? – pensou.
— Biiss. – Daro ralhou mais uma vez – Façaaa.
— O seu corpo vai... Ficar em pedaços, e nada garante que vai ser o suficiente. – Ao terminar de falar Katro começou a golfar mais sangue.
— Kaleeeebs. – Daro gritou mais uma vez com ainda mais determinação a não deixar o amigo morrer.
— Já que você quer tanto morrer, aproxime se dele e reúna o máximo de mana que conseguir.  – Daro se arrastou até perto de Katro e começou a reunir todo o mana que podia. Bis começou a produzir círculos de luz envolvendo os dois. Antes que pudesse iniciar o processo, o gigantesco viajante adentrou ao circulo.
— Seria uma vergonha, um gigante deixar um de sua própria raça ser salvo por “pequenos” enquanto observa tudo sem fazer nada. Faça isso comigo também. – Todos se entreolharam por um instante estranhando a ação do gigante que agora a pouco tentava tirar a vida de Katro. Bis não pensou duas vezes. Um circulo se formou em volta do gigante imediatamente. — Meu nome é Idash Karay e não deixarei que esse gigante morra. – Daro e Bis acenaram positivamente. O processo começou. Daro e Idash gritavam com a força que faziam para manter seus manas em alto nível e ao mesmo tempo com a dor que lhes era infundida pelo processo. O buraco no peito de Katro foi lentamente se fechando enquanto Daro perdia a consciência. O gigante o pegou com uma mão e o jogou para fora do circulo – Eu assumo daqui pequeno. – Ao jogar Daro para fora o peso do processo de transferência se focou todo nele, fazendo-o dobrar o joelho no chão. Idash mostrava muita determinação ao resistir ao processo. Os gritos eram ouvidos a distância. Tina finalmente apareceu, havia sido jogada longe e também parecia ferida, mas nem Bis e nem Idash se deixaram distrair pela sua presença. O gigante se pôs de pé novamente com muito esforço e determinação. De fato aquele gigante havia lutado muito, e bravamente para ter ficado naquele estado. Merecia viver e Idash havia dado a sua palavra. Os gritos se intensificaram assim como a luz emitida pelo circulo até chegar ao ápice do processo. O circulo se fechou no machucado de Katro, agora apenas um roxo no lugar de um buraco. No mesmo instante o gigantesco viajante caiu de joelhos. — Que batalha esse gigante deve ter enfrentado para ficar nesse estado! – disse Idash com certa empolgação ao sentir seus músculos tremerem em espasmos involuntários.
A convulsão parou junto com o processo de transferência e agora Katro parecia Dormir tranquila e profundamente enquanto Idash ofegava exausto.
— Vamos tomar uma cerveja e você vai me contar como conseguiu ficar nesse estado meu amigo. – Disse o gigante se sentando ao lado de Katro ainda adormecido. Seus músculos se contraiam em espasmos involuntários à medida que o suor escorria pelo seu rosto provando o tamanho do esforço para salvar a vida daquele desconhecido.

*E.5.: Era dos 5
*1793: ano
*3/2: 3° dias da 2° quinzena
* VER.: Verão




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