Parte 23
IDASH:
Amigo ou inimigo?
E.5.: 1793, 3/2 VER.
Algum
lugar a nordeste de Brokenfell(grande reino dos gigantes)
O gigantesco homem
seguia viagem montado num enorme quadrúpede, com um bico que se assemelhava a
uma águia e chifres interligados por uma carapaça no formato de uma tiara. Um
estrondo repentino fez o animal parar num rompante. O gigante rapidamente
apanhou sua clava e se pôs em guarda. Ele desceu de sua montaria e começou a
andar sorrateiramente em direção ao barulho. Um barulho daquela proporção era
bom investigar. Um estalar de madeira se partindo antecedeu a queda de uma
enorme galha próxima do gigante indicando que já estava próximo de seja lá o
que for aquilo.
Em meio a uma cratera
gigantesca jazia um enorme corpo todo dilacerado. O gigante correu até ele.
Katro agonizava. O corte no ombro se abriu e alem dele agora tinha um enorme
furo em seu abdômen. Ele agonizava, mas não movia sequer um músculo. – deve ter
tido uma batalha e tanto. E mesmo assim foi deixado para morrer de forma tão
humilhante. Pobre coitado. – Pensou. O viajante o virou de lado e imediatamente
ele cuspiu litros de sangue meio coalhado que o estava impedindo de respirar.
— Se afaste dele agora
mesmo. – gritou Daro moribundo, quase perdendo a consciência enquanto se
arrastava para perto do amigo.
— Um verme como você
ousa dar ordens a um gigante depois do que fez? – vociferou o homem indignado
ao ver um da sua raça naquela situação e aparentemente por causa de um pequeno.
– Vou te esmagar e depois darei ao meu amigo uma morte honrada.
— Você não vai encostar
um dedo sequer nele. – Daro reafirmou o compromisso com determinação.
— Continua a me dar
ordens! Se fosse um gigante eu lutaria com você, mas um verme quase morto não
merece tal honra. – Afirmou o gigante percebendo o estado de Daro. Virou-se
para Katro pronto para dar ao compatriota uma morte digna. Ao sacar sua adaga,
Daro o acertou um golpe nas costelas com o restinho de força que lhe restava
jogando o gigante para longe de katro.
— Você não vai tocar um
só dedo nele. – Mais uma vez Daro reafirmou o compromisso, agora se colocando
entre o amigo e o viajante.
— Isso é coisa de
gigantes. Não se intrometa nisso no que não é da sua conta. – vociferou o
gigantesco viajante inconformado em deixar um gigante ter uma morte tão
humilhante assim. Ao ver a determinação nos olhos de Daro se acalmou um pouco
mais – Muito bem, terminem o seu combate, mas ouça garoto, não ouse deixar
aquele gigante morrer engasgado com seu próprio sangue, acerte o coração. –
Aconselhou guardando a adaga.
— Você não entendeu...
– Daro exprimiu as palavras para fora – Não vou deixar que ninguém toque nele,
e tampouco que ele morra. Ele é meu amigo e não morreria assim tão fácil.
O homem voltou ao
semblante raivoso por um instante, mas resolveu ver o que acontecia. Ele deu de
ombros e apontou para Katro estirado no chão.
— Vá em frente, mas
tenha em mente que se esse gigante morrer, você também morre. – Finalizou o
gigante se sentando para observar ainda com a cara fechada.
— Biiss. – Daro Gritou
chamando o amigo. Imediatamente o pequeno apareceu em cima do peito de Katro,
gerando um espanto no viajante.
— Por que será que ele
ficou gigante dessa vez? – A criança começou a perguntar ignorando totalmente o
estado de Katro.
— Você já conhece alguma
magia de cura? – Questionou Daro ignorando a pergunta de Bis.
— Da outra vez ele não
ficou gigante. – Bis ignorava totalmente a situação.
— Biiss. – Gritou Daro
com seriedade. Bis nunca tinha visto Daro com tamanha determinação.
— O máximo que posso fazer
é uma transferência de dano. O ideal seria um inimigo, mas já que não temos um
no momento posso passar os danos para a outra pessoa. – Terminou sugestivamente
olhando para o viajante que imediatamente segurou no cabo da adaga.
— Faça comigo.
— O que? Mas...
— Biiisss... Muitas
pessoas já morreram por minha causa... Não vou permitir que ninguém mais morra
por mim. Nunca mais. Façaa. – O gigante ficou pasmo ao ver a determinação de um
pequeno em salvar a vida de um gigante. Os pequenos consideravam os gigantes
apenas como armas de destruição há tanto tempo que até eles mesmo achavam que
não tinha propósito em viver sem guerrear e mostrar que eram os melhores em
causar destruição. Ver alguém tão determinado em salvar a vida de um gigante
era quase que inconcebível até pra ele mesmo, e isso o fazia ficar um pouco
envergonhado ao ver outra espécie mais interessada na vida de um gigante do que
um de sua própria espécie. – Quem é esse garoto? – pensou.
— Biiss. – Daro ralhou
mais uma vez – Façaaa.
— O seu corpo vai...
Ficar em pedaços, e nada garante que vai ser o suficiente. – Ao terminar de
falar Katro começou a golfar mais sangue.
— Kaleeeebs. – Daro
gritou mais uma vez com ainda mais determinação a não deixar o amigo morrer.
— Já que você quer
tanto morrer, aproxime se dele e reúna o máximo de mana que conseguir. – Daro se arrastou até perto de Katro e
começou a reunir todo o mana que podia. Bis começou a produzir círculos de luz
envolvendo os dois. Antes que pudesse iniciar o processo, o gigantesco viajante
adentrou ao circulo.
— Seria uma vergonha,
um gigante deixar um de sua própria raça ser salvo por “pequenos” enquanto
observa tudo sem fazer nada. Faça isso comigo também. – Todos se entreolharam
por um instante estranhando a ação do gigante que agora a pouco tentava tirar a
vida de Katro. Bis não pensou duas vezes. Um circulo se formou em volta do
gigante imediatamente. — Meu nome é Idash Karay e não deixarei que esse gigante
morra. – Daro e Bis acenaram positivamente. O processo começou. Daro e Idash gritavam
com a força que faziam para manter seus manas em alto nível e ao mesmo tempo
com a dor que lhes era infundida pelo processo. O buraco no peito de Katro foi
lentamente se fechando enquanto Daro perdia a consciência. O gigante o pegou
com uma mão e o jogou para fora do circulo – Eu assumo daqui pequeno. – Ao
jogar Daro para fora o peso do processo de transferência se focou todo nele,
fazendo-o dobrar o joelho no chão. Idash mostrava muita determinação ao
resistir ao processo. Os gritos eram ouvidos a distância. Tina finalmente
apareceu, havia sido jogada longe e também parecia ferida, mas nem Bis e nem
Idash se deixaram distrair pela sua presença. O gigante se pôs de pé novamente
com muito esforço e determinação. De fato aquele gigante havia lutado muito, e
bravamente para ter ficado naquele estado. Merecia viver e Idash havia dado a
sua palavra. Os gritos se intensificaram assim como a luz emitida pelo circulo
até chegar ao ápice do processo. O circulo se fechou no machucado de Katro,
agora apenas um roxo no lugar de um buraco. No mesmo instante o gigantesco
viajante caiu de joelhos. — Que batalha esse gigante deve ter enfrentado para
ficar nesse estado! – disse Idash com certa empolgação ao sentir seus músculos
tremerem em espasmos involuntários.
A convulsão parou junto
com o processo de transferência e agora Katro parecia Dormir tranquila e
profundamente enquanto Idash ofegava exausto.
— Vamos tomar uma
cerveja e você vai me contar como conseguiu ficar nesse estado meu amigo. –
Disse o gigante se sentando ao lado de Katro ainda adormecido. Seus músculos se
contraiam em espasmos involuntários à medida que o suor escorria pelo seu rosto
provando o tamanho do esforço para salvar a vida daquele desconhecido.
*E.5.:
Era dos 5
*1793:
ano
*3/2:
3° dias da 2° quinzena
*
VER.: Verão
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