Parte 15
REINO
PRIMORDIAL
E.5.:
1781, 4/1 OUT.
Reino primordial (realidade
paralela)
Um clarão e um zumbido
infernal antecederam o aparecimento de Taram, Daro e Calus. Mal apareceram e os
garotos já caíram de joelhos vomitando o pouco que tinha no estomago. Após
recobrar um pouco mais o domínio do intestino, Daro levantou a cabeça admirando
o lugar, e Calus logo em seguida acompanhando-o. Era tudo tão cheio de cores,
cogumelos gigantes; arvores quem nem dava pra ver o topo, e uma imensidade de
cheiros, sons e coisas que nunca tinham visto.
— O que é aquilo? Que lugar é
esse? Que barulho é esse? – Daro disparou a perguntar como forma de escape pra
tanta novidade.
— Calma criança, uma coisa de
cada vez. Primeiro vamos a minha casa.
Andaram por mais ou menos uma
hora e meia. Daro e Calus impressionados o tempo todo, seja com a fauna, seja
com a flora. Tudo era muito lindo. Tinha um cheiro bom de terra molhada pelo
orvalho e clima agradável.
— Pronto! Chegamos! Bem
vindos ao meu lar e agora o de vocês. – Disse Taram olhando para os garotos por
cima do ombro. Na entrada Havia três grandes estatuas de pedra, e duas fileiras
de magos de armaduras e capacetes prateados e capas vermelhas dos dois lados da
escadaria formando um corredor de recepção. Subiram as escadas passando por
baixo da estátua do meio e adentraram o castelo para sua nova vida.
Tempos se passaram e Daro
ainda se perdia olhando para o céu em busca dos dragões que volta e meia
passavam voando.
— Daro... Daro? – A segunda
chamada veio acompanhada de um cascudo que o arrancou da distração.
— Aiii! – Reclamou.
— Depois de todo esse tempo
você ainda fica se impressionando com os dragões. – Indagou Calus com a espada
junta ao pescoço de Daro.
— Você tem um potencial muito
grande Daro, não pode desperdiçar isso. E não vai ser se distraindo assim
durante o treino que você vai fazer seu talento aflorar. – Taram deu a bronca –
De novo, lembre-se de que nessa brincadeira quem morre, perde. Dessa vez, sem
distrações, caso contrário você nunca vai acompanhar Calus. –Completou.
Mais algumas quinzenas se passaram, e com
eles os garotos foram evoluindo. Calus com seus treinos de magia e a espada, e
Daro apenas com as aulas de espada e caça para apurar seus sentidos que já eram
muito bons. Logo se fizeram bons discípulos, bem treinados e obedientes,
entretanto, Calus ainda alimentava as trevas em seu coração. A morte de Doms
não seria facilmente apagada de sua memória, e o sentimento que prevalecia
ainda era o de vingar a morte do amigo. Daro ainda não entendia por que não
podia ter aulas de magia, mesmo assim ficava espiando de longe e às vezes até
arriscava em uma tentativa e outra, mas sempre sem sucesso.
Era fim de mais uma tarde de
brincadeiras/treino. Taram adorava joguinhos e brincadeiras e fazia todos os
treinos como brincadeiras, jogos, e apostas, e se divertia como uma criança, às
vezes ficando até muito irritado em perder. Daro estava sentado à beira do
penhasco nos fundos do castelo, sobe sombra de uma arvore. Apreciava o por do
sol por entre nuvens carregadas enquanto os ventos indicavam a chegada de
chuva.
— Pelo menos um eu achei! –
disse o mago, com um sorriso de leve no rosto – Não consigo encontrar o seu
irmão, ele aprendeu mesmo a se ocultar. – Daro deu um sorriso sem graça,
visivelmente abatido – Daro? – Disse Taram em voz branda se aproximando.
— Sim pai.
— O que há com você meu
filho? Tem agido diferente ultimamente. – Questionou se sentando ao lado de
Daro e pondo a mão sobre seu ombro.
— Por que eu não posso ter
aulas de magia como Calus? – Questionou Daro de cabeça baixa.
— Já tivemos essa conversa
antes. Você e Calus têm talentos diferentes. Calus é muito inteligente,
consegue prever muitos movimentos a frente do oponente e tem um talento natural
com a magia, você por outro lado é tem o coração puro, os sentidos muito mais
apurados, consegue ver, ouvir e sentir coisas que os outros não sentem. Você
querer treinar magia seria como tentar treinar água para queimar ou fogo para
matar a sede. Não se pode mudar o que nós somos filho. – bagunçou o cabelo de
Daro e virou-se – Não tenha vergonha do seu dom filho, não se sinta inferior a
ninguém. Lembra-se do que é a magia? – Levantou o cenho.
— “A magia é uma manifestação
da alma que segue o compasso do coração”. – Recitou se lembrando dos ensinamentos
do mago.
— Sabe o que significa? Que
todos nós temos magia dentro de nós. Não se martirize por isso criança, a sua
pureza é o que te torna único. – Finalizou com voz branda enquanto se
levantava.
— Você sempre diz isso, mas
não me deixa fazer o teste de inquisição! – Resmungou Daro fazendo bico, o que
fez Taram sentir um pouco de remorso.
— Façamos o seguinte... Se é
tão importante assim pra você, deixarei que você faça o teste quando eu
retornar. – Sugeriu tentando agradar um pouco o garoto e para enterrar essa
história de uma vez.
— É sério? – Daro saltou de
alegria, mas ainda desconfiado.
— Você terá o tempo que eu
estiver fora para treinar, só vou te pedir para não criar muitas expectativas,
não quero que se magoe filho. – começou da caminhar e parou em seguida – Mais
uma coisa, vou te fazer uma pergunta e quero que você seja sincero na resposta,
caso contrário, esqueça o que eu disse sobre o teste. – Enrijeceu a voz.
— Sim senhor. – Apreçou-se em
responder.
— Há quanto tempo você está
em contato com o Darksh no subterrâneo? – Questionou com calma, gerando uma
cara de espanto de Daro com a surpresa de ele saber disso.
— É... Hã... É. – gaguejou
tentando achar as palavras certas – Eu segui Calus há alguns dias. – respondeu
abaixando a cabeça – Me perdoe.
— E como ele pareceu pra
você? Qual foi à reação dele? – Questionou um pouco curioso. Daro estranhou a
pergunta invés de uma bronca.
— Bom, pareceu ser uma
criança normal, apesar de ele conversar estranho, mas acho que ele gostou de
mim. Ele é muito curioso, aí eu digo pra ele como é aqui fora. – respondeu um
pouco acanhado por ter sido descoberto – Mas por que o senhor não o deixa sair?
Ele diz que nunca saiu de lá. Fico com pena dele. – Finalizou com um pesar na
fala.
— Entendo, mas acredite filho
é melhor ele ficar lá onde posso contê-lo.
— Devo parar de vê-lo? – Daro
questionou quase como se implorasse para que não.
— Parece que vocês se dão
bem, não seria justo separá-los por mero capricho meu. Então deixarei a função
de cuidar dele em suas mãos. – Falou deixando Daro para trás.
— Obrigado... Obrigado pai.
Vou me esforçar pra passar no teste. – Gritou Daro ao ver Taram se afastando.
*E.5.: Era dos 5
*1781: Ano
*4/1: 4° dia da 1° quinzena
*OUT.: Outono
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