Parte 11
DETERMINAÇÃO
E.5.:
1773, 9/2 INV.
Tantrum
(extremo oeste do território mágico)
Uma única vela em cima
da mesa de madeira bem trabalhada era a única coisa que rompia a escuridão e a
névoa de fumo de uma pessoa sentada na cadeira atrás dela. O silêncio era tanto
que dava pra ouvir as baforadas que o homem dava em seu cachimbo, até que o
bater de alguém na porta rompeu o silêncio arrancando o homem de seus
pensamentos.
— General? O rapaz
desmaiou senhor. – Disse a voz por trás da porta.
— Quantos dias desde
que ele chegou aos portões? – O general questionou pouco interessado com uma
voz grave e rouca.
— 19, senhor.
— Traga-o para dentro,
limpem-no e tragam-no até mim. E não se esqueçam de alimentá-lo antes, não
quero ninguém desmaiando de fome na minha sala. – Ordenou o general ainda com a
porta fechada.
— Sim senhor. –
Consentiu a pessoa do lado de fora partindo a passos largos.
O general lia alguns
papeis, assinava alguns e outros rasgava. O único barulho que se ouvia era o de
seus dedos folheando as páginas e mais páginas em sua mesa. Mais uma vez o
silêncio foi rompido por alguém batendo a porta.
— Senhor, trouxemos o
rapaz. – Anunciou o soldado entreabrindo a porta.
— Ótimo! Mande-o entrar
e depois envie isso ao lorde Castile. – Ordenou o general derramando a cera no
papel e pressionado o anel de ouro por cima antes que esfriasse e entregando ao
soldado.
— Sim senhor.
Assim que o soldado
saiu um rapaz mau vestido adentrou a sala.
— feche a porta. –
Ordenou o general sem nem levantar as vistas. O rapaz obedeceu. Sentou-se na
cadeira frente ao general e ficou a observar o homem que lia atentamente os
papéis em sua mesa, e às vezes até mostrava um sorriso de canto de boca ou um
franzir de cenho. A sala era bem simples, duas janelas pequenas nas costas do
general mostravam a vista do pátio de treinamento e do portão oeste, um armário
e uma estante de livros do lado esquerdo e um baú do lado direito, uma armadura
velha e uma espada dentro da bainha num suporte de parede. O homem olhou um
ultimo papel, soltou-o na mesa, levantou as vistas e examinou o rapaz dos pés a
cabeça.
— O que quer aqui
rapaz? – Perguntou o general escorando o queixo em uma das mãos e segurando no
encosto da cadeira com a outra, numa pose bem relaxada.
— Me alistar... Senhor.
– Respondeu o rapaz rígido e um pouco desconcertado com a postura do general.
— Me desculpe pela
postura relaxada. – se redimiu percebendo o incomodo do rapaz, e logo em
seguida se recostou na cadeira e cruzou os pés em cima da mesa, contradizendo
totalmente seu pedido de desculpas com a sua pose ainda mais relaxada que antes
– Mas me diga rapaz, por que acha que eu devo te recrutar? – questionou –Tenho
mais soldados do que preciso. – disse colocando as mãos atrás da cabeça ficando
ainda mais relaxado, fazendo o garoto pensar duas vezes se era esse cara mesmo
que comandava a maior prisão dos reinos.
— Não quero que me
recrute senhor. Só quero a autoridade de prender todos os bandidos que eu puder
encontrar. – Respondeu sem pestanejar.
— E por que eu deveria
te dar tal autoridade? – Desafiou o garoto.
— Porque posso poupá-lo
de ter que mover uma palha pra capturar qualquer bandido que o senhor deseje
ver atrás das grades. – Respondeu percebendo a aparente preguiça do homem.
— Hooo... Isso seria
muito bom... Todavia, como eu disse, tenho mais soldados do que necessito. Não
preciso mover um dedo sequer, se eu não quiser.
— Nesse caso, um a mais
não faria a menor diferença. Não é mesmo?
— Deverás, mas há outro
problema, eu não quero mais um soldado aqui garoto.
— Gradian. – Corrigiu
entre dentes.
— Como?
— Meu nome... Gradian
At’Aros, senhor.
— Gradian... Soa bem. –
sussurrou pensativo – Mas ainda não te quero aqui como soldado.
— Eu discordo. –
Fitou-o.
— É mesmo? E por quê? –
Questionou curioso com a audácia do rapaz.
— Se não quisesse algo
de mim, teria me deixado lá fora pra morrer em vez de me trazer para dentro, me
alimentar, e ainda me trazer pra conversar pessoalmente com o senhor.
— Muito bem garoto,
desvendou parte da charada. Mas eu continuo não querendo mais nenhum soldado
aqui.
— Pode ser qualquer
coisa senhor, posso ser até mesmo seu lacaio senhor. – Implorou o rapaz
percebendo o total desinteresse do general.
— Não posso te pagar...
— Não preciso de
pagamento.
— Não posso te
alimentar...
— Eu posso caçar.
— Não posso garantir a
sua vida...
— Nem eu.
— Tenho que admitir,
você é insistente garoto.
— Gradian. – Corrigiu
— Certo, o que você
sabe fazer além de me encher o saco GRADIAN? – Perguntou irônico.
— Eu era caçador
senhor. – Respondeu com um aceno de cabeça.
— Caçador é!... Tenho
um jogo muito bom pra caçadores. – Disse com um sorriso de desafio.
— Jogo?
...
O vento soprava forte o
pátio de treinamento. Alguns sentinelas faziam a vigília de cima das duas
torres do muro, outros apenas marchavam de um lado para o outro frente ao
portão.
— O jogo é bem simples.
Você só tem que acertar os alvos que eu vou jogar, antes que eles caiam no
chão. – Disse o general apontando para um cesto cheio de Maçãs e nele escorado
um arco e uma aljava cheia de flechas ao lado.
— Só isso? – Suspeitou.
— Claro que não! Pra um
jogo ter graça tem que apostar. – Respondeu com um sorriso maldoso.
— Eu aceito.
— Aceita? Eu ainda não
disse o que vamos apostar!
— Não importa. Eu tenho
que vencer. – Resmungou Gradian pegando o arco e analisando a pegada e o peso.
— Muito bem. –
concordou o general surpreso com tamanha determinação – vamos começar então. –
Finalizou pegando duas maçãs.
Gradian pegou a aljava
cheia de flechas e a colocou nas costas, pegou uma e se colocou em posição
olhando fixamente para o oponente. O general deu uma olhadela de soslaio para
Gradian tão concentrado que sua respiração parecia ter cessado.
Então começou. O
general atirou a primeira maçã com tanta força que ela chegou a desaparecer no
céu por uns instantes, e antes que ela voltasse a aparecer, o homem lançou mais
uma, e depois mais outra e outra e outra. Num instante ele havia lançado uma
dezena de maçãs ao alto. Gradian agora com os olhos no céu com a concentração
no Maximo. Os olhos nem piscavam, até que a primeira maçã foi avistada, e uma
após a outra começaram a ser vistas. As mãos dançaram entre a aljava e o arco
numa velocidade impressionante demonstrando maestria e leveza a cada disparo.
Uma após a outra as maçãs foram sendo partidas ao meio pelas flechas de
Gradian, porém elas pareciam cair todas à mesma altura, como se tivessem sido
soltas para cair ao mesmo tempo no chão. Sete... Seis... Cinco... Duas estavam
muito próximas. As mãos habilidosas dispararam duas flechas ao mesmo tempo com
naturalidade. Três... A penúltima já estava a poucos metros do chão quando foi
alvejada. Finalmente a ultima foi partida ao meio a dois palmos do chão.
Gradian relaxou os braços e deu um suspiro, quando alguma coisa caiu em sua
cabeça e tocou o chão. Uma maçã.
*E.5.:
Era dos 5
*1773:
ano
*9/2:
9° dia da 2° quinzena
*INV.:
inverno
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