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terça-feira, 6 de junho de 2017

A GERAÇÃO DE PRAGAS

Parte 11
DETERMINAÇÃO

E.5.: 1773,  9/2  INV.
Tantrum (extremo oeste do território mágico)

Uma única vela em cima da mesa de madeira bem trabalhada era a única coisa que rompia a escuridão e a névoa de fumo de uma pessoa sentada na cadeira atrás dela. O silêncio era tanto que dava pra ouvir as baforadas que o homem dava em seu cachimbo, até que o bater de alguém na porta rompeu o silêncio arrancando o homem de seus pensamentos.
— General? O rapaz desmaiou senhor. – Disse a voz por trás da porta.
— Quantos dias desde que ele chegou aos portões? – O general questionou pouco interessado com uma voz grave e rouca.
— 19, senhor.
— Traga-o para dentro, limpem-no e tragam-no até mim. E não se esqueçam de alimentá-lo antes, não quero ninguém desmaiando de fome na minha sala. – Ordenou o general ainda com a porta fechada.
— Sim senhor. – Consentiu a pessoa do lado de fora partindo a passos largos.
O general lia alguns papeis, assinava alguns e outros rasgava. O único barulho que se ouvia era o de seus dedos folheando as páginas e mais páginas em sua mesa. Mais uma vez o silêncio foi rompido por alguém batendo a porta.
— Senhor, trouxemos o rapaz. – Anunciou o soldado entreabrindo a porta.
— Ótimo! Mande-o entrar e depois envie isso ao lorde Castile. – Ordenou o general derramando a cera no papel e pressionado o anel de ouro por cima antes que esfriasse e entregando ao soldado.
— Sim senhor.
Assim que o soldado saiu um rapaz mau vestido adentrou a sala.
— feche a porta. – Ordenou o general sem nem levantar as vistas. O rapaz obedeceu. Sentou-se na cadeira frente ao general e ficou a observar o homem que lia atentamente os papéis em sua mesa, e às vezes até mostrava um sorriso de canto de boca ou um franzir de cenho. A sala era bem simples, duas janelas pequenas nas costas do general mostravam a vista do pátio de treinamento e do portão oeste, um armário e uma estante de livros do lado esquerdo e um baú do lado direito, uma armadura velha e uma espada dentro da bainha num suporte de parede. O homem olhou um ultimo papel, soltou-o na mesa, levantou as vistas e examinou o rapaz dos pés a cabeça.
— O que quer aqui rapaz? – Perguntou o general escorando o queixo em uma das mãos e segurando no encosto da cadeira com a outra, numa pose bem relaxada.
— Me alistar... Senhor. – Respondeu o rapaz rígido e um pouco desconcertado com a postura do general.
— Me desculpe pela postura relaxada. – se redimiu percebendo o incomodo do rapaz, e logo em seguida se recostou na cadeira e cruzou os pés em cima da mesa, contradizendo totalmente seu pedido de desculpas com a sua pose ainda mais relaxada que antes – Mas me diga rapaz, por que acha que eu devo te recrutar? – questionou –Tenho mais soldados do que preciso. – disse colocando as mãos atrás da cabeça ficando ainda mais relaxado, fazendo o garoto pensar duas vezes se era esse cara mesmo que comandava a maior prisão dos reinos.
— Não quero que me recrute senhor. Só quero a autoridade de prender todos os bandidos que eu puder encontrar. – Respondeu sem pestanejar.
— E por que eu deveria te dar tal autoridade? – Desafiou o garoto.
— Porque posso poupá-lo de ter que mover uma palha pra capturar qualquer bandido que o senhor deseje ver atrás das grades. – Respondeu percebendo a aparente preguiça do homem.
— Hooo... Isso seria muito bom... Todavia, como eu disse, tenho mais soldados do que necessito. Não preciso mover um dedo sequer, se eu não quiser.
— Nesse caso, um a mais não faria a menor diferença. Não é mesmo?
— Deverás, mas há outro problema, eu não quero mais um soldado aqui garoto.
— Gradian. – Corrigiu entre dentes.
— Como?
— Meu nome... Gradian At’Aros, senhor.
— Gradian... Soa bem. – sussurrou pensativo – Mas ainda não te quero aqui como soldado.
— Eu discordo. – Fitou-o.
— É mesmo? E por quê? – Questionou curioso com a audácia do rapaz.
— Se não quisesse algo de mim, teria me deixado lá fora pra morrer em vez de me trazer para dentro, me alimentar, e ainda me trazer pra conversar pessoalmente com o senhor.
— Muito bem garoto, desvendou parte da charada. Mas eu continuo não querendo mais nenhum soldado aqui.
— Pode ser qualquer coisa senhor, posso ser até mesmo seu lacaio senhor. – Implorou o rapaz percebendo o total desinteresse do general.
— Não posso te pagar...
— Não preciso de pagamento.
— Não posso te alimentar...
— Eu posso caçar.
— Não posso garantir a sua vida...
— Nem eu.
— Tenho que admitir, você é insistente garoto.
— Gradian. – Corrigiu
— Certo, o que você sabe fazer além de me encher o saco GRADIAN? – Perguntou irônico.
— Eu era caçador senhor. – Respondeu com um aceno de cabeça.
— Caçador é!... Tenho um jogo muito bom pra caçadores. – Disse com um sorriso de desafio.
— Jogo?


...


O vento soprava forte o pátio de treinamento. Alguns sentinelas faziam a vigília de cima das duas torres do muro, outros apenas marchavam de um lado para o outro frente ao portão.
— O jogo é bem simples. Você só tem que acertar os alvos que eu vou jogar, antes que eles caiam no chão. – Disse o general apontando para um cesto cheio de Maçãs e nele escorado um arco e uma aljava cheia de flechas ao lado.
— Só isso? – Suspeitou.
— Claro que não! Pra um jogo ter graça tem que apostar. – Respondeu com um sorriso maldoso.
— Eu aceito.
— Aceita? Eu ainda não disse o que vamos apostar!
— Não importa. Eu tenho que vencer. – Resmungou Gradian pegando o arco e analisando a pegada e o peso.
— Muito bem. – concordou o general surpreso com tamanha determinação – vamos começar então. – Finalizou pegando duas maçãs.
Gradian pegou a aljava cheia de flechas e a colocou nas costas, pegou uma e se colocou em posição olhando fixamente para o oponente. O general deu uma olhadela de soslaio para Gradian tão concentrado que sua respiração parecia ter cessado.
Então começou. O general atirou a primeira maçã com tanta força que ela chegou a desaparecer no céu por uns instantes, e antes que ela voltasse a aparecer, o homem lançou mais uma, e depois mais outra e outra e outra. Num instante ele havia lançado uma dezena de maçãs ao alto. Gradian agora com os olhos no céu com a concentração no Maximo. Os olhos nem piscavam, até que a primeira maçã foi avistada, e uma após a outra começaram a ser vistas. As mãos dançaram entre a aljava e o arco numa velocidade impressionante demonstrando maestria e leveza a cada disparo. Uma após a outra as maçãs foram sendo partidas ao meio pelas flechas de Gradian, porém elas pareciam cair todas à mesma altura, como se tivessem sido soltas para cair ao mesmo tempo no chão. Sete... Seis... Cinco... Duas estavam muito próximas. As mãos habilidosas dispararam duas flechas ao mesmo tempo com naturalidade. Três... A penúltima já estava a poucos metros do chão quando foi alvejada. Finalmente a ultima foi partida ao meio a dois palmos do chão. Gradian relaxou os braços e deu um suspiro, quando alguma coisa caiu em sua cabeça e tocou o chão. Uma maçã.

*E.5.: Era dos 5
*1773: ano
*9/2: 9° dia da 2° quinzena
*INV.: inverno



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