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terça-feira, 6 de junho de 2017

A GERAÇÃO DE PRAGAS

Parte 13
KATRO NO LIMITE

E.5.: 1793, 2/2 VER.
Algum lugar a noroeste de Tantrum 

Katro acordou com a cabeça latejando quase tanto quanto seu ombro dilacerado, ainda sem entender bem o que acontecera.  Enquanto focalizava as vistas tentando identificar onde estava, viu aquele garoto sentado e observando com muito entusiasmo enquanto Tina mostrava suas adagas.
PROTECTUM
— Ora seuu... Dessa vez você não me escapa. – Resmungou Katro com os dedos da mão esquerda cruzados conjurando a proteção.
— Katro, o que está fazendo? – Questionou Tina sem entender a reação do guardião.
— Não se preocupe Tina, vou acabar com ele dessa vez. – Continuou resmungando ainda sem conseguir se levantar.
— Do que você está falando, Katro pare já com isso. É uma ordem.
— Desculpe Tina, mas não posso obedecer a uma ordem que vá te colocar em perigo. – Disse se colocando de pé.
— Então você já acordou capacho! – Daro chegou de surpresa dando um tapinha no ombro direito de Katro, fazendo-o ir ao chão se contorcendo de dor ao mesmo tempo em que perdia o controle do selo de amarrações.
— Des-graçado! – Gemeu Katro no chão enquanto se retorcia de dor.

...

O cheiro delicioso de peixe assando recendia no lugar. Katro agora encarava com um ar intimidativo o garoto escondido atrás de Tina, enquanto Daro se empanturrava com um peixe assado que ele havia pegado mais cedo.
— Quer dizer então que era ele que a gente estava indo resgatar de Tantrum? – Questionou Katro ainda desconfiado.
— Uhum. – Resmungou Daro em resposta sem Tirar o peixe da boca.
— Então você quer me explicar por que diabos ele queria nos matar? – Disse voltando o olhar sobre Daro.
— A culpa foi sua, que não cumpriu o trato. – Se exaltou a criança saindo de traz de Tina e deixando sua aura tenebrosa invadir o lugar, fazendo com que Katro se lembrasse da sensação de quase morte.
— Calado Criança, não me dirigi a você. – vociferou Katro com certa insatisfação – E que merda é essa que você está falando? Não fiz trato algum com você criança.
— Kalebs! – Disse Daro sem tirar os dentes do seu peixe assado.
— O que?
— O nome dele, é Kalebs... Mas pode chamar ele de Bis. – Respondeu Daro ainda de boca cheia.
— Quem disse que ele pode me chamar assim? – Resmungou Bis retraindo sua aura de volta para dentro de si e voltando a parecer tão indefeso quanto sua forma física.
— E quem disse que eu quero te chamar assim “CRIANÇA”. – Retrucou.
— Parem vocês dois já. – se exaltou Tina como uma mãe em tom de bronca – Daro já disse que não somos inimigos. Não há por que ficarem se hostilizando. – Finalizou objetiva, enquanto se servia com um dos peixes que assavam.
— Que seja, mas que fique bem claro que da próxima não serei presa... Serei o caçador. Ouviu “Bis”. – Finalizou olhando de soslaio o garoto ir aos braços de Tina.
O sol começava a se pôr, formando no seu ultimo suspiro um véu de nuvens avermelhadas que se estendia até o horizonte. A tensão aos poucos foi se dissipando a medida que todos se serviam seguindo o exemplo de Daro, até que todos se concentrassem apenas em comer. Daro terminou de comer, se esparramou, e ficou observando enquanto os outros se fartavam com o produto da sua pesca de mais cedo; Tina com sua delicadeza cheia de modos; Bis se lambuzando todo como uma criança; e Katro se virando com a mão esquerda enquanto o ombro direito todo enrolado com tiras de pano ainda molhado pelo pisado sangue da ferida pendia sobre o colo.
Daro pairou alguns segundos olhando e antes que percebesse sua mão tocava o peito como se procurando por algo.
— Eu ia te perguntar sobre isso. – Bis rompeu o silêncio.
— Hã?
– Daro voltou a si com a pergunta inesperada.
— Seu corpo... Sei que você se recupera muito rápido, mas sair ileso depois de tudo aquilo foi de mais, até pra você. – Explicou – Anda, me diga o que foi que você fez? Não há nada, nem mesmo arranhões ou hematomas! – Questionou encarando Daro com aquela curiosidade de sempre, esquecendo até do jantar.
— É verdade. Até onde me lembro o comandante Gradian te apunhalou bem no peito logo antes de eu perder a consciência. – Indagou Tina.
— Agora que vocês falaram, eu também estava me esquecendo disso. Você foi varado bem no meio do peito, fora o golpe de antes que você não estava conseguindo nem mesmo se mexer. – Completou Katro. Todos pararam de comer e agora as atenções se voltavam para Daro que ainda tentava organizar as palavras para esboçar uma explicação.
— É! A verdade é que não me lembro de muita coisa. – Respondeu Daro com um sorriso confuso dando de ombros.
— Como assim não lembra? – Os três questionaram ao mesmo tempo.
— Bom, pra começar eu perdi o controle logo no começo, e como sempre eu não me lembro de nada. Depois só me recordo de ver a Tina chorando e de uma dor intensa no peito. – Argumentou Daro passando a mão sobre o peito.
— Ótimo! Agora além dos seus chiliques habituais vou ter que me preocupar com mais uma personalidade estranha e uma criança mortal. Tudo o que eu queria. – se exaltou Katro expressando todo o seu desconforto – Quer saber mais uma coisa? Não sabemos nada de você, nem dele. – disse apontando para Kalebs – Não sei de onde vem ou pra onde vai, nem seus objetivos. Desde Elan eu estou cumprindo as ordens da princesa Tina cegamente enquanto a vejo seguir um estranho suicida por aí, colocando a vida em risco o tempo todo.
— Calma Katro... – Tina tentou apaziguar, sendo interrompida logo em seguida.
— Não me peça calma princesa. Minha missão é protegê-la a todo custo, mas tenho que saber do que exatamente estou te protegendo e no momento, a meu ver ele representa muito mais perigo pra senhora do que qualquer inimigo que possa estar a nossa espreita, então eu quero respostas, e quero agora. – retrucou – Pra começar, eu quero saber, por que estamos seguindo ele? Quem é você Daro? De onde veio? Por que essa criança estava presa em Tantrum? De repente eles são criminosos. Já passou pela sua cabeça isso princesa? Perceba que são muitas perguntas sem resposta. Responda-as. – Finalizou franzindo o sobrolho. Tina agora percebera que Katro tinha razão e isso a assustara um pouco, mesmo não enxergando maldade em Daro o fato é que ela também não sabia muito dele.

...

O véu negro da noite já cobria toda a floresta. Alguns vaga-lumes entravam pela janela da velha cabana. O estalar da madeira na fogueira fazia subir fagulhas pelo ar. Katro e Tina observavam a expressão de Daro ficar vaga e logo depois ele se levantou, bateu a poeira e saiu porta a fora de cabeça baixa sem dizer uma única palavra. Tina fez que ia levantar, mas Bis a interrompeu segurando seu braço.
— Melhor deixar ele só por enquanto. – Disse Bis com um olhar tão vago quanto o de Daro.
— O que aconteceu Bis? – Questionou Tina se perguntando se queria realmente saber.
— Foi a algumas semanas. – deu uma pausa e um suspiro – Daro tinha saído em missão e me levou escondido junto com ele, era coisa simples, pegar um envelope e voltar, não tinha como dar errado, e não deu, mas quando voltamos... – franziu o cenho e trancou os dentes antes de prosseguir. Fechou os olhos como se não quisesse ver as expressões a seguir – Quando chegamos... Deparamos-nos com todos aqueles corpos em imensas poças de sangue. Daro começou a correr pelos corredores, todos ensanguentados e com corpos pra todos os lados. Ele entrou porta adentro na biblioteca. Eu o segui, e lá dentro eu vi... O homem mais poderoso que eu já conheci, desfazendo com muito esforço a magia que o havia petrificado até a altura do peito. “O que houve aqui pai? Quem fez isso? Onde está Calus?” Daro perguntou, e o que Taram respondeu foi o que deixou ele nesse estado.  “Seu irmão nos traiu. Ele roubou o grimório Daro.” E desde então eu e Daro estamos em busca atrás de qualquer pista, qualquer rumor no nos leve até Calus. Depois de procurar por dias de busca incansável, Daro disse ter ouvido algo sobre uma prisão que mantinha todos os piores e mais poderosos bandidos da história cativos, e que não custava nada conferir, claro que eu fui contra, mas ele estava decidido, então o que eu fiz foi, ir na frente pra ver se achava alguma coisa e voltar antes que ele arrumasse qualquer bagunça. Quando eu estava esperando uma deixa pra fugir, foi que vocês chegaram e armaram toda aquela bagunça. E o resto vocês já sabem.
Katro e Tina olhavam para Bis com uma cara de abobalhados. Ficaram assim por alguns instantes.
— Então Daro vai justiça com as próprias mãos. Muito macho. – Disse Katro aprovando a ação.
— Eles são irmãos. Você mataria seu próprio irmão? – Questionou Bis – Eu não sei ainda o que ele vai fazer. Só sei que os dois eram muito apegados.
— Eram? – Tina perguntou.
— Bom... Ultimamente Calus andava muito distante, chegava de uma missão e já saia em outra, não dava muita atenção a Daro, mas nada que justificasse aquilo. – indagou Bis. Os olhares se cruzaram por uns instantes – Chega de histórias por hoje. Melhor dormir. Temos que procurar um médico pro grandão amanhã. Há e não comentem nada sobre isso com Daro. Ele não gosta de falar sobre isso. – Finalizou se deitando e fechando os olhos.

*E.5.: Era dos 5
*1793: ano
*2/2: 2° dia da 2° quinzena

*VER.: verão

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