Parte 13
KATRO
NO LIMITE
E.5.: 1793, 2/2 VER.
Algum
lugar a noroeste de Tantrum
Katro acordou com a
cabeça latejando quase tanto quanto seu ombro dilacerado, ainda sem entender
bem o que acontecera. Enquanto
focalizava as vistas tentando identificar onde estava, viu aquele garoto
sentado e observando com muito entusiasmo enquanto Tina mostrava suas adagas.
PROTECTUM
— Ora seuu... Dessa vez
você não me escapa. – Resmungou Katro com os dedos da mão esquerda cruzados
conjurando a proteção.
— Katro, o que está
fazendo? – Questionou Tina sem entender a reação do guardião.
— Não se preocupe Tina,
vou acabar com ele dessa vez. – Continuou resmungando ainda sem conseguir se
levantar.
— Do que você está
falando, Katro pare já com isso. É uma ordem.
— Desculpe Tina, mas
não posso obedecer a uma ordem que vá te colocar em perigo. – Disse se
colocando de pé.
— Então você já acordou
capacho! – Daro chegou de surpresa dando um tapinha no ombro direito de Katro,
fazendo-o ir ao chão se contorcendo de dor ao mesmo tempo em que perdia o
controle do selo de amarrações.
— Des-graçado! – Gemeu
Katro no chão enquanto se retorcia de dor.
...
O cheiro delicioso de
peixe assando recendia no lugar. Katro agora encarava com um ar intimidativo o
garoto escondido atrás de Tina, enquanto Daro se empanturrava com um peixe
assado que ele havia pegado mais cedo.
— Quer dizer então que
era ele que a gente estava indo resgatar de Tantrum? – Questionou Katro ainda
desconfiado.
— Uhum. – Resmungou
Daro em resposta sem Tirar o peixe da boca.
— Então você quer me
explicar por que diabos ele queria nos matar? – Disse voltando o olhar sobre
Daro.
— A culpa foi sua, que
não cumpriu o trato. – Se exaltou a criança saindo de traz de Tina e deixando
sua aura tenebrosa invadir o lugar, fazendo com que Katro se lembrasse da
sensação de quase morte.
— Calado Criança, não
me dirigi a você. – vociferou Katro com certa insatisfação – E que merda é essa
que você está falando? Não fiz trato algum com você criança.
— Kalebs! – Disse Daro
sem tirar os dentes do seu peixe assado.
— O que?
— O nome dele, é Kalebs...
Mas pode chamar ele de Bis. – Respondeu Daro ainda de boca cheia.
— Quem disse que ele
pode me chamar assim? – Resmungou Bis retraindo sua aura de volta para dentro
de si e voltando a parecer tão indefeso quanto sua forma física.
— E quem disse que eu quero
te chamar assim “CRIANÇA”. – Retrucou.
— Parem vocês dois já.
– se exaltou Tina como uma mãe em tom de bronca – Daro já disse que não somos
inimigos. Não há por que ficarem se hostilizando. – Finalizou objetiva,
enquanto se servia com um dos peixes que assavam.
— Que seja, mas que
fique bem claro que da próxima não serei presa... Serei o caçador. Ouviu “Bis”.
– Finalizou olhando de soslaio o garoto ir aos braços de Tina.
O sol começava a se
pôr, formando no seu ultimo suspiro um véu de nuvens avermelhadas que se
estendia até o horizonte. A tensão aos poucos foi se dissipando a medida que
todos se serviam seguindo o exemplo de Daro, até que todos se concentrassem
apenas em comer. Daro terminou de comer, se esparramou, e ficou observando
enquanto os outros se fartavam com o produto da sua pesca de mais cedo; Tina
com sua delicadeza cheia de modos; Bis se lambuzando todo como uma criança; e
Katro se virando com a mão esquerda enquanto o ombro direito todo enrolado com
tiras de pano ainda molhado pelo pisado sangue da ferida pendia sobre o colo.
Daro pairou alguns
segundos olhando e antes que percebesse sua mão tocava o peito como se
procurando por algo.
— Eu ia te perguntar
sobre isso. – Bis rompeu o silêncio.
— Hã?
– Daro voltou a si com
a pergunta inesperada.
— Seu corpo... Sei que
você se recupera muito rápido, mas sair ileso depois de tudo aquilo foi de
mais, até pra você. – Explicou – Anda, me diga o que foi que você fez? Não há
nada, nem mesmo arranhões ou hematomas! – Questionou encarando Daro com aquela
curiosidade de sempre, esquecendo até do jantar.
— É verdade. Até onde
me lembro o comandante Gradian te apunhalou bem no peito logo antes de eu
perder a consciência. – Indagou Tina.
— Agora que vocês
falaram, eu também estava me esquecendo disso. Você foi varado bem no meio do
peito, fora o golpe de antes que você não estava conseguindo nem mesmo se
mexer. – Completou Katro. Todos pararam de comer e agora as atenções se
voltavam para Daro que ainda tentava organizar as palavras para esboçar uma explicação.
— É! A verdade é que
não me lembro de muita coisa. – Respondeu Daro com um sorriso confuso dando de
ombros.
— Como assim não
lembra? – Os três questionaram ao mesmo tempo.
— Bom, pra começar eu
perdi o controle logo no começo, e como sempre eu não me lembro de nada. Depois
só me recordo de ver a Tina chorando e de uma dor intensa no peito. –
Argumentou Daro passando a mão sobre o peito.
— Ótimo! Agora além dos
seus chiliques habituais vou ter que me preocupar com mais uma personalidade
estranha e uma criança mortal. Tudo o que eu queria. – se exaltou Katro
expressando todo o seu desconforto – Quer saber mais uma coisa? Não sabemos
nada de você, nem dele. – disse apontando para Kalebs – Não sei de onde vem ou
pra onde vai, nem seus objetivos. Desde Elan eu estou cumprindo as ordens da
princesa Tina cegamente enquanto a vejo seguir um estranho suicida por aí,
colocando a vida em risco o tempo todo.
— Calma Katro... – Tina
tentou apaziguar, sendo interrompida logo em seguida.
— Não me peça calma
princesa. Minha missão é protegê-la a todo custo, mas tenho que saber do que
exatamente estou te protegendo e no momento, a meu ver ele representa muito
mais perigo pra senhora do que qualquer inimigo que possa estar a nossa
espreita, então eu quero respostas, e quero agora. – retrucou – Pra começar, eu
quero saber, por que estamos seguindo ele? Quem é você Daro? De onde veio? Por
que essa criança estava presa em Tantrum? De repente eles são criminosos. Já
passou pela sua cabeça isso princesa? Perceba que são muitas perguntas sem
resposta. Responda-as. – Finalizou franzindo o sobrolho. Tina agora percebera
que Katro tinha razão e isso a assustara um pouco, mesmo não enxergando maldade
em Daro o fato é que ela também não sabia muito dele.
...
O véu negro da noite já
cobria toda a floresta. Alguns vaga-lumes entravam pela janela da velha cabana.
O estalar da madeira na fogueira fazia subir fagulhas pelo ar. Katro e Tina
observavam a expressão de Daro ficar vaga e logo depois ele se levantou, bateu
a poeira e saiu porta a fora de cabeça baixa sem dizer uma única palavra. Tina
fez que ia levantar, mas Bis a interrompeu segurando seu braço.
— Melhor deixar ele só
por enquanto. – Disse Bis com um olhar tão vago quanto o de Daro.
— O que aconteceu Bis?
– Questionou Tina se perguntando se queria realmente saber.
— Foi a algumas
semanas. – deu uma pausa e um suspiro – Daro tinha saído em missão e me levou
escondido junto com ele, era coisa simples, pegar um envelope e voltar, não
tinha como dar errado, e não deu, mas quando voltamos... – franziu o cenho e
trancou os dentes antes de prosseguir. Fechou os olhos como se não quisesse ver
as expressões a seguir – Quando chegamos... Deparamos-nos com todos aqueles
corpos em imensas poças de sangue. Daro começou a correr pelos corredores,
todos ensanguentados e com corpos pra todos os lados. Ele entrou porta adentro
na biblioteca. Eu o segui, e lá dentro eu vi... O homem mais poderoso que eu já
conheci, desfazendo com muito esforço a magia que o havia petrificado até a
altura do peito. “O que houve aqui pai? Quem fez isso? Onde está Calus?” Daro
perguntou, e o que Taram respondeu foi o que deixou ele nesse estado. “Seu irmão nos traiu. Ele roubou o grimório
Daro.” E desde então eu e Daro estamos em busca atrás de qualquer pista,
qualquer rumor no nos leve até Calus. Depois de procurar por dias de busca
incansável, Daro disse ter ouvido algo sobre uma prisão que mantinha todos os
piores e mais poderosos bandidos da história cativos, e que não custava nada
conferir, claro que eu fui contra, mas ele estava decidido, então o que eu fiz
foi, ir na frente pra ver se achava alguma coisa e voltar antes que ele
arrumasse qualquer bagunça. Quando eu estava esperando uma deixa pra fugir, foi
que vocês chegaram e armaram toda aquela bagunça. E o resto vocês já sabem.
Katro e Tina olhavam
para Bis com uma cara de abobalhados. Ficaram assim por alguns instantes.
— Então Daro vai
justiça com as próprias mãos. Muito macho. – Disse Katro aprovando a ação.
— Eles são irmãos. Você
mataria seu próprio irmão? – Questionou Bis – Eu não sei ainda o que ele vai
fazer. Só sei que os dois eram muito apegados.
— Eram? – Tina
perguntou.
— Bom... Ultimamente
Calus andava muito distante, chegava de uma missão e já saia em outra, não dava
muita atenção a Daro, mas nada que justificasse aquilo. – indagou Bis. Os
olhares se cruzaram por uns instantes – Chega de histórias por hoje. Melhor
dormir. Temos que procurar um médico pro grandão amanhã. Há e não comentem nada
sobre isso com Daro. Ele não gosta de falar sobre isso. – Finalizou se deitando
e fechando os olhos.
*E.5.:
Era dos 5
*1793:
ano
*2/2:
2° dia da 2° quinzena
*VER.:
verão
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