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terça-feira, 6 de junho de 2017

A GERAÇÃO DE PRAGAS

Parte 17
O CONSELHO GIGANTE

E.5.: 1793, 2/2  VER.
Granmeteor (noroeste do território dos gigantes)

Árvores a perder de vista sombreavam o lugar onde seis homens gigantescos discutiam fervorosamente em volta de uma imensa rocha de formato arredondado que era usada como mesa. Os copos cheios de cerveja indicavam o apresso pela bebida, do mesmo modo que as armas ao lado de suas cadeiras indicavam o espírito de guerreiros ávidos por uma batalha.
— Como todo gigante que se preze eu vivo pela próxima batalha e cada um de nós sonha com a que marcará os nossos nomes na história. – Dizia o gigante careca e de barba até a altura do peito. As várias cicatrizes mostravam que era um gigante de muitas batalhas o que para a raça era de muita valia.
— Isso é verdade meu amigo, mas deve-se lembrar que nossos nomes ficariam mais bem gravados história se estivéssemos lutando em causa própria e não como subalternos de Feygan. – Retrucou o outro com o copo na mão. O peito estava todo enfaixado como se tivesse lutado recentemente e ainda estivesse se recuperando.
— E o que sugere que façamos Kansor? Declarar guerra contra os outros quatro grandes reinos ao mesmo tempo?– questionou o careca com ar de gozação.
— Ainda seria melhor do que virar subalternos de criaturas inferiores. – Respondeu energicamente batendo a caneca com força na mesa fazendo espirrar um pouco de cerveja para fora.
— Devo lembrar-lhes que um ato de guerra só poderia ser declarado pelo rei dos gigantes, e mesmo que um Sazion esteja sentado no trono, ele não é o rei de direito. – O velho gigante que ouvia calado se pronunciou.
— Cuidado com as palavras Panador, mesmo longe do grande reino há que seja fiel ao “REI”. – Alertou o careca alisando a sua barba.
— É a verdade Gaspar e você sabe disso. Os Sazion sempre governaram o grande reino dos gigantes e sempre teve apoio de todos os clãs. Leste, oeste, norte, sul... O rei de direito é o único que tem autoridade e poder para declarar uma guerra e unir os clãs, e sabemos que isso não vai acontecer com o falso rei que ocupa o trono. Caso decidamos nos unir a Astigan numa guerra entre os grandes reinos, a menos que o “REI” também se alie a Feygan, seremos potencialmente inimigos de nós mesmos. – Finalizou. Panador era o mais velho dos seis que compunham a mesa, e aquele que era mais respeitado tanto pela sua experiência em combate quanto pela experiência de vida.
Todos se entreolharam por alguns instantes buscando uma justificativa para continuar o debate.
— E enquanto ele não retorna ao trono hã... Nós ficaremos assim... De pés e mãos atadas? Meu clã clama por batalhas, e se não for em uma guerra fora das terras dos gigantes, não sei por quanto tempo mais vamos conseguir conter o estouro de uma guerra aqui mesmo. – todos os olhares se voltaram para o mais jovem a mesa. Boruir. – O que estou dizendo é que não sabemos nem mesmo se o rei de direito ainda está vivo. Ele sumiu há anos e nunca tivemos notícias, nem nunca achamos um corpo para confirmar morte. A pergunta é, será que devemos mesmo esperar pela decisão de um rei que não sabe governar... Ou pela boa vontade de outro que não sabemos nem se ainda está vivo, de voltar? – questionou gesticulando com os braços abertos – Eu digo que estamos sozinhos e como tal, temos que decidir o que fazer... Lutar e fazer o nome dos gigantes ecoar no mundo uma vez mais... Ou recuar e nos submeter a um reinado de esquecimento. – Finalizou puxando a adaga da sinta e cravando na mesa.

...


A névoa gélida da manhã ainda pairava por entre as árvores gigantescas da floresta do leste. A maioria dos gigantes ainda dormia enquanto Zalta caminhava pensativo pela vila. As casas todas em madeira bem trabalhada e com chifres de mamutes nas comunheiras. O gigante parou ao chegar ao centro da vila. Havia uma enorme rocha de forma triangular que parecia ter sido cravada no chão a muito mais tempo do que qualquer um pudesse contar. Aquela pedra enorme – até mesmo para os padrões dos gigantes – ali no mesmo lugar a centenas de anos, sem ceder um milímetro sequer, era um símbolo quase sagrado para os gigantes dali.
— Não consegue dormir Zalta? – O velho Panador estava sentado em um tronco de árvore logo a esquerda de Zalta, o que o levou a tomar um breve susto por não ter percebido o amigo.
— Me diga você Panador. – Retrucou com um breve sorriso de canto de boca. Se dirigiu ao velho e se sentou ao lado do amigo que não tirava os olhos da pedra.
— Granmeteor... Há milhares de anos aqui, nesse mesmo lugar nessa posição improvável, mas sem tombar nem para um lado... Nem para o outro. – disse o velho em nostalgia – Assim são os gigantes... Fortes; imponentes e determinados. Quando colocamos uma coisa na cabeça, dificilmente voltamos atrás, e é por isso que eu sei que não vamos conseguir parar os jovens sedentos para se consagrarem como guerreiros. – Finalizou temeroso.
— Será que estamos fazendo o certo Panador? Deixar de seguir nossos instintos para esperar um rei que pode não voltar.
— Sabe por que só há um rei em todo o território dos gigantes, e fora ele só os lideres dos clãs? – questionou com um sorriso afetuoso de um pai que ensina um filho. Zalta fez que não com a cabeça – Por que cada líder tem um laço com o clã antes de tudo... E em toda a história dos gigantes, somente a casa Sazion conseguiu um laço tão forte quanto essa rocha... Não com um clã...  Mas com a raça. – Finalizou pondo a mão sobre o ombro do amigo – Se estamos certos ou errados só o tempo dirá, mas é essa convicção com que estamos fazendo é que confirma o que estou te dizendo. Por hora só podemos esperar por Idash. – disse voltando as vistas ao céu – Só espero que ele não seja corrompido quando chegar ao grande reino.

*E.5.: Era dos 5
*1793: ano
*2/2: 2° dia da 2° quinzena
*VER.: verão



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