Parte 17
O
CONSELHO GIGANTE
E.5.: 1793, 2/2 VER.
Granmeteor
(noroeste do território dos gigantes)
Árvores a perder de
vista sombreavam o lugar onde seis homens gigantescos discutiam fervorosamente
em volta de uma imensa rocha de formato arredondado que era usada como mesa. Os
copos cheios de cerveja indicavam o apresso pela bebida, do mesmo modo que as
armas ao lado de suas cadeiras indicavam o espírito de guerreiros ávidos por
uma batalha.
— Como todo gigante que
se preze eu vivo pela próxima batalha e cada um de nós sonha com a que marcará
os nossos nomes na história. – Dizia o gigante careca e de barba até a altura
do peito. As várias cicatrizes mostravam que era um gigante de muitas batalhas
o que para a raça era de muita valia.
— Isso é verdade meu
amigo, mas deve-se lembrar que nossos nomes ficariam mais bem gravados história
se estivéssemos lutando em causa própria e não como subalternos de Feygan. –
Retrucou o outro com o copo na mão. O peito estava todo enfaixado como se
tivesse lutado recentemente e ainda estivesse se recuperando.
— E o que sugere que
façamos Kansor? Declarar guerra contra os outros quatro grandes reinos ao mesmo
tempo?– questionou o careca com ar de gozação.
— Ainda seria melhor do
que virar subalternos de criaturas inferiores. – Respondeu energicamente
batendo a caneca com força na mesa fazendo espirrar um pouco de cerveja para
fora.
— Devo lembrar-lhes que
um ato de guerra só poderia ser declarado pelo rei dos gigantes, e mesmo que um
Sazion esteja sentado no trono, ele não é o rei de direito. – O velho gigante
que ouvia calado se pronunciou.
— Cuidado com as
palavras Panador, mesmo longe do grande reino há que seja fiel ao “REI”. –
Alertou o careca alisando a sua barba.
— É a verdade Gaspar e
você sabe disso. Os Sazion sempre governaram o grande reino dos gigantes e
sempre teve apoio de todos os clãs. Leste, oeste, norte, sul... O rei de
direito é o único que tem autoridade e poder para declarar uma guerra e unir os
clãs, e sabemos que isso não vai acontecer com o falso rei que ocupa o trono.
Caso decidamos nos unir a Astigan numa guerra entre os grandes reinos, a menos
que o “REI” também se alie a Feygan, seremos potencialmente inimigos de nós
mesmos. – Finalizou. Panador era o mais velho dos seis que compunham a mesa, e
aquele que era mais respeitado tanto pela sua experiência em combate quanto
pela experiência de vida.
Todos se entreolharam
por alguns instantes buscando uma justificativa para continuar o debate.
— E enquanto ele não
retorna ao trono hã... Nós ficaremos assim... De pés e mãos atadas? Meu clã
clama por batalhas, e se não for em uma guerra fora das terras dos gigantes,
não sei por quanto tempo mais vamos conseguir conter o estouro de uma guerra
aqui mesmo. – todos os olhares se voltaram para o mais jovem a mesa. Boruir. –
O que estou dizendo é que não sabemos nem mesmo se o rei de direito ainda está
vivo. Ele sumiu há anos e nunca tivemos notícias, nem nunca achamos um corpo
para confirmar morte. A pergunta é, será que devemos mesmo esperar pela decisão
de um rei que não sabe governar... Ou pela boa vontade de outro que não sabemos
nem se ainda está vivo, de voltar? – questionou gesticulando com os braços
abertos – Eu digo que estamos sozinhos e como tal, temos que decidir o que
fazer... Lutar e fazer o nome dos gigantes ecoar no mundo uma vez mais... Ou
recuar e nos submeter a um reinado de esquecimento. – Finalizou puxando a adaga
da sinta e cravando na mesa.
...
A névoa gélida da manhã
ainda pairava por entre as árvores gigantescas da floresta do leste. A maioria
dos gigantes ainda dormia enquanto Zalta caminhava pensativo pela vila. As
casas todas em madeira bem trabalhada e com chifres de mamutes nas comunheiras.
O gigante parou ao chegar ao centro da vila. Havia uma enorme rocha de forma
triangular que parecia ter sido cravada no chão a muito mais tempo do que
qualquer um pudesse contar. Aquela pedra enorme – até mesmo para os padrões dos
gigantes – ali no mesmo lugar a centenas de anos, sem ceder um milímetro
sequer, era um símbolo quase sagrado para os gigantes dali.
— Não consegue dormir
Zalta? – O velho Panador estava sentado em um tronco de árvore logo a esquerda
de Zalta, o que o levou a tomar um breve susto por não ter percebido o amigo.
— Me diga você Panador.
– Retrucou com um breve sorriso de canto de boca. Se dirigiu ao velho e se
sentou ao lado do amigo que não tirava os olhos da pedra.
— Granmeteor... Há
milhares de anos aqui, nesse mesmo lugar nessa posição improvável, mas sem
tombar nem para um lado... Nem para o outro. – disse o velho em nostalgia –
Assim são os gigantes... Fortes; imponentes e determinados. Quando colocamos
uma coisa na cabeça, dificilmente voltamos atrás, e é por isso que eu sei que
não vamos conseguir parar os jovens sedentos para se consagrarem como
guerreiros. – Finalizou temeroso.
— Será que estamos
fazendo o certo Panador? Deixar de seguir nossos instintos para esperar um rei
que pode não voltar.
— Sabe por que só há um
rei em todo o território dos gigantes, e fora ele só os lideres dos clãs? –
questionou com um sorriso afetuoso de um pai que ensina um filho. Zalta fez que
não com a cabeça – Por que cada líder tem um laço com o clã antes de tudo... E
em toda a história dos gigantes, somente a casa Sazion conseguiu um laço tão
forte quanto essa rocha... Não com um clã...
Mas com a raça. – Finalizou pondo a mão sobre o ombro do amigo – Se
estamos certos ou errados só o tempo dirá, mas é essa convicção com que estamos
fazendo é que confirma o que estou te dizendo. Por hora só podemos esperar por
Idash. – disse voltando as vistas ao céu – Só espero que ele não seja
corrompido quando chegar ao grande reino.
*E.5.:
Era dos 5
*1793:
ano
*2/2:
2° dia da 2° quinzena
*VER.:
verão
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