Parte 18
RASTREADORES
E.5.: 1793, 3/2 VER.
Algum
lugar a noroeste de Tantrum
Os
primeiros raios de sol começavam há anunciar o dia. Tina despertou de seu sono,
passeou os olhos pelo ambiente a procura de Daro. Não estava ali. “Será que
ainda não retornou” pensou. Katro e Bis ainda dormiam profundamente. Ela se
levantou com cuidado para não acordar os dois.
A
luz lhe incomodou os olhos de inicio ao passar pela porta, mas logo as pupilas
se ajustaram ao sol da manhã que iluminava o ambiente, revelando a beleza do
lugar que só agora pudera reparar. Várias plantas estranhas, mas lindas a sua
maneira. Algumas com folhas enormes e de cor azul, e outras com as folhas ainda
maiores e com flores amareladas.
Daro
jazia perdido em seus pensamentos, sentado em uma rocha coberta de musgo,
coberto pela sombra das árvores e o cântico dos pássaros.
Passos quase imperceptíveis
Tina
foi chegando de fininho e se escondeu atrás de uma árvore ao ver Daro de
costas. Não queria incomodar os pensamentos dele, mas sentia em seu coração que
devia. Desde que o conheceu em Elam, tudo o que ela via nela era um rapaz muito
bonito, sempre alegre e decidido, e que mesmo em situações de perigo ele dava
um jeito de fazer alguma piadinha.
—
Não precisa se esconder Tina. – Daro pronunciou com a voz ainda meio abatida,
mas visivelmente mais conformada. Refletira a noite inteira e chegara a uma
conclusão.
—
O que me denunciou? – Questionou toda sem jeito e envergonhada, saindo de trás
da árvore.
—
Seus passos quando estava há uns cem metros... – disse – E o seu cheiro, de
rosas do campo, quando estava a uns vinte metros. – finalizou esboçando um leve
sorriso fazendo Tina corar de vergonha com o último comentário.
—
Está tudo bem? Você não voltou ontem, fiquei preocupada. – Indagou se sentando
ao lado de Daro.
—
Tá... Tá sim, tudo bem. Obrigado por perguntar. – Daro respondeu voltando os
olhos verdes esmeralda para Tina com o mesmo sorriso de leve, fazendo Tina
avermelhar ainda mais.
—
Então... O que vai fazer? Digo... Com relação à Calus. – Se arriscou a
perguntar mesmo com um pouco de receio.
—
Bis!... O que foi que ele contou pra vocês?
—
As mortes, o seu pai petrificado e o roubo do grimório. – Respondeu abaixando a
cabeça se lamentando pelo ocorrido.
—
Só tem uma coisa a fazer... Encontrá-lo.
—
E depois?
—
Não sei... Sinceramente, eu não sei o que vou fazer depois. –suspirou – Minha
cabeça diz para levá-lo de volta para ser julgado; todavia meu coração se nega
a aceitar que ele seja um assassino e traidor, de todo jeito eu só sei que
tenho que achá-lo, antes do pai. Ele é meu irmão, sei que faria o mesmo por
mim. – Respondeu gesticulando com as mãos.
Tina
segurou uma das mãos delicadamente e o olhou nos olhos.
—
Eu também tenho um irmão mais velho. – disse segurando a mão de Daro suavemente
ainda de cabeça baixa – Sei que a decisão que você está tomando é muito
difícil; mas saiba que eu vou estar com você, seja qual for a sua decisão. –
Ela levantou as vistas. Daro a olhava fixamente, e só então percebeu que havia
falado de mais. Suas bochechas rosaram na mesma hora, mas antes que pudesse
esboçar qualquer reação a vergonha, ele se aproximou encostando os lábios nos
seus.
...
Gradian
dara início a caçada floresta a dentro. Qualquer rastro, pista, cheiro ou
anormalidade; nada passava por ele despercebido.
Mais
a frente uma clareira. Anormalidade. Areia? Enquanto ia se aproximando ia
ficando mais claro o contorno circular. Não sabia o que tinha acontecido ali,
mas com certeza aqueles três tinham algo a ver com aquilo. Um pequeno círculo
no centro de toda aquela areia ainda detinha o verde de outrora. O que terá
acontecido aqui? Pensou. Magia com certeza, mais ainda sim muito estranha.
Um rastro.
Apenas um.
—
Alguma coisa aconteceu aqui, com certeza. – disse passando a mão sobre uma
única pegada na grama do círculo menor – Noroeste então! Prepare-se garoto,
dessa vez não terei misericórdia. – Finalizou serrando o punho como uma
promessa, rumando na direção de sua presa.
...
Daro
e Tina se beijavam. Uma mão apalpava o peito enquanto a outra, a cocha. Tina
suspirava ofegante com o coração acelerado entre beijos e apalpes. O primeiro
estrondo; o segundo e o terceiro logo em seguida, assustaram os dois no clima
quente.
—
O que foi isso? – Esboçou Tina com o susto e ainda ofegante.
—
Pelo visto aqueles dois acordaram! – respondeu Daro se recompondo – Melhor
irmos acalmar as coisas por lá, antes que aqueles dois idiotas chamem ainda
mais atenção. – Finalizou e saiu correndo puxando Tina pelo braço.
O pequeno casebre já
estava em pedaços, e uma poeira fina ainda se mantinha no lugar. Katro se
esforçava para manter a armadura de aura no braço esquerdo enquanto atacava
Bis, que desviava facilmente dos ataques. A ferida do ombro direito de Katro se
abriu, umedecendo as tiras de pano em seu ombro e tornando o vermelho ainda
mais vivido que antes.
—
O que vocês estão fazendo seus idiotas? – Gritou Tina ao chegar correndo e ver
a situação em que a casa ficou. Katro parou o ataque seguinte de imediato ao
ouvir a voz dela.
—
Tina! Onde você estava? Você está bem? Eu pensei que... – Katro tentou se
explicar.
—
Viu só! Eu disse que não fiz nada. – Bis provocou, gerando um desconcerto ainda
maior em Katro.
—
Seu ombro... – Lamentou Tina ao ver a situação da ferida mais uma vez aberto
pelo esforço demasiado.
—
Não foi nada. Estou be... – Engasgou com a repuxada de dor.
—
Bis, me ajude a pegar as coisas pra sairmos logo daqui. – Ordenou Daro,
revirando os escombros que restara.
—
Mas por que eu? Foi ele que começou. – Resmungou. Enquanto Tina retirava as
tiras de pano com cuidado para olhar a ferida de Katro.
—
Anda logo. – Ordenou Daro sem dar ouvidos ao resmungo.
—
Taaa. – Bis resmungou uma última vez antes de ir ajudar Daro que já revirava os
escombros atrás de suprimentos para a partida.
...
Gradian
corria pela floresta, sempre rumo a noroeste, sempre sério e concentrado. A
bagagem nas costas pareciam nada diante da velocidade que infligiam suas
pernas. De repente ele parou, fazendo a bagagem bater na armadura de caça a
qual vestia. Um barulho. Rapidamente ele subiu numa arvore para expandir o
campo de visão. Longe dali uma sombra de poeira “provinda do barulho de agora
pouco”, pairava alta.
—
Achei vocês! – Pensou o comandante em voz alta, pulando da árvore logo em
seguida apressando ainda mais o passo, com um sorriso maléfico no rosto.
As
passadas aumentaram de forma extraordinariamente rápida, de modo que em poucos
minutos já poderia avistar a presa. Logo à frente; só mais um pouco. A
distância já estava tão curta que fez Gradian sacar sua espada.
...
—
Todos prontos? – disse Daro com a bagagem já nas costas – Então vamos indo,
antes que alguém apareça. – Finalizou fazendo frente à caminhada, lenta, devido
ao estado de Katro, mas logo sendo interrompido por um estalar misturado ao
barulho de arvores caindo ali perto. Todos voltaram os olhos para traz
rapidamente com o susto do barulho repentino.
—
Droga, já nos acharam! – Bis pensou em voz alta – Daro?
—
Nem olhe pra mim, eu não fiz nada dessa vez! – se apressou na defesa – Devem
ter sido atraídos pela bagunça que você fez. – Acusou gesticulando com as mãos
diante dos escombros que restaram no lugar. Bis deu de ombros com a acusação.
—
Enfim... Você consegue fazer de novo? – questionou – Só que dessa vez
precisamos ir muito mais longe. – Completou com tranquilidade. Em seguida
vários rastreadores foram aparecendo um após o outro fazendo o cerco.
—
Fazer o que? – Tina entrou na conversa quase em desespero ao ver os
rastreadores cercando-os.
—
Você sabe que eu vou ficar inconsciente se eu tentar aquilo de novo, não é? –
Daro respondeu Bis ignorando totalmente o questionamento de Tina. Enquanto
isso, um homem de corpo esguio e com uma marcara de ferro retorcido se
aproximava com naturalidade.
—
Passou pela minha cabeça.
—
E se não der certo você sozinho vai dar conta da situação?
—
Daro... Acho que se não tentar, não daremos conta da situação nem todos juntos.
– Finalizou Bis com temor nas palavras ao ver aquele homem magro se aproximar.
O homem parou frente aos jovens com a mesma naturalidade com que caminhava.
—
Entreguem a princesa e eu dou a minha palavra que suas mortes serão rápidas e
indolores. – Disse o homem com uma voz grave e abafada pela mascara de ferro,
estendendo a mão em seguida.
—
Bis... Consegue ganhar algum tempo? – Daro sussurrou para o amigo, recebendo um
aceno positivo de cabeça como resposta.
No
mesmo instante Bis estalou os dedos fazendo um pequeno circulo de luz
separando-os dos rastreadores. Logo depois ele estalou os dedos novamente e o
circulo se expandiu como uma pulsação até a extremidade do cerco, transformando
tudo em areia. Só o que restou foi o pó, mas antes mesmo que a poeira abaixasse
os rastreadores se materializaram no mesmo lugar, bem como o homem magro com a
mão estendida dando mais um passo a frente.
Daro
se esforçava para fechar o circulo de luz que desenhava no ar com dois dedos.
Ao fechar o circulo ele posicionou sua mão com a palma empurrando o centro do
circulo com toda a força que tinha. O desgaste da ultima viagem agora se fazia
visível diante do esforço exibido nas veias sobressaltadas que se entendiam do
seu braço até a sua testa. “não vou conseguir muita coisa desse jeito” Daro
pensou.
—
Tina, traga Katro para perto de mim e fique aqui próximo. – Daro conseguiu
exprimir para fora da boca com muito esforço. Tina se apressou com Katro
escorado nela em uma situação não muito boa.
De
repente o homem magro saltou para cima, por um instante parecendo voar de
encontro a Tina.
*E.5.:
Era dos 5
*1793:
ano
*3/2:
3° dia da 2° quinzena
*VER.:
verão
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