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terça-feira, 6 de junho de 2017

A GERAÇÃO DE PRAGAS

Parte 18
RASTREADORES
E.5.: 1793, 3/2 VER.
Algum lugar a noroeste de Tantrum 

Os primeiros raios de sol começavam há anunciar o dia. Tina despertou de seu sono, passeou os olhos pelo ambiente a procura de Daro. Não estava ali. “Será que ainda não retornou” pensou. Katro e Bis ainda dormiam profundamente. Ela se levantou com cuidado para não acordar os dois.
A luz lhe incomodou os olhos de inicio ao passar pela porta, mas logo as pupilas se ajustaram ao sol da manhã que iluminava o ambiente, revelando a beleza do lugar que só agora pudera reparar. Várias plantas estranhas, mas lindas a sua maneira. Algumas com folhas enormes e de cor azul, e outras com as folhas ainda maiores e com flores amareladas.
Daro jazia perdido em seus pensamentos, sentado em uma rocha coberta de musgo, coberto pela sombra das árvores e o cântico dos pássaros.
Passos quase imperceptíveis
Tina foi chegando de fininho e se escondeu atrás de uma árvore ao ver Daro de costas. Não queria incomodar os pensamentos dele, mas sentia em seu coração que devia. Desde que o conheceu em Elam, tudo o que ela via nela era um rapaz muito bonito, sempre alegre e decidido, e que mesmo em situações de perigo ele dava um jeito de fazer alguma piadinha.
— Não precisa se esconder Tina. – Daro pronunciou com a voz ainda meio abatida, mas visivelmente mais conformada. Refletira a noite inteira e chegara a uma conclusão.
— O que me denunciou? – Questionou toda sem jeito e envergonhada, saindo de trás da árvore.
— Seus passos quando estava há uns cem metros... – disse – E o seu cheiro, de rosas do campo, quando estava a uns vinte metros. – finalizou esboçando um leve sorriso fazendo Tina corar de vergonha com o último comentário.
— Está tudo bem? Você não voltou ontem, fiquei preocupada. – Indagou se sentando ao lado de Daro.
— Tá... Tá sim, tudo bem. Obrigado por perguntar. – Daro respondeu voltando os olhos verdes esmeralda para Tina com o mesmo sorriso de leve, fazendo Tina avermelhar ainda mais.
— Então... O que vai fazer? Digo... Com relação à Calus. – Se arriscou a perguntar mesmo com um pouco de receio.
— Bis!... O que foi que ele contou pra vocês?
— As mortes, o seu pai petrificado e o roubo do grimório. – Respondeu abaixando a cabeça se lamentando pelo ocorrido.
— Só tem uma coisa a fazer... Encontrá-lo.
— E depois?
— Não sei... Sinceramente, eu não sei o que vou fazer depois. –suspirou – Minha cabeça diz para levá-lo de volta para ser julgado; todavia meu coração se nega a aceitar que ele seja um assassino e traidor, de todo jeito eu só sei que tenho que achá-lo, antes do pai. Ele é meu irmão, sei que faria o mesmo por mim. – Respondeu gesticulando com as mãos.
Tina segurou uma das mãos delicadamente e o olhou nos olhos.
— Eu também tenho um irmão mais velho. – disse segurando a mão de Daro suavemente ainda de cabeça baixa – Sei que a decisão que você está tomando é muito difícil; mas saiba que eu vou estar com você, seja qual for a sua decisão. – Ela levantou as vistas. Daro a olhava fixamente, e só então percebeu que havia falado de mais. Suas bochechas rosaram na mesma hora, mas antes que pudesse esboçar qualquer reação a vergonha, ele se aproximou encostando os lábios nos seus.

...


Gradian dara início a caçada floresta a dentro. Qualquer rastro, pista, cheiro ou anormalidade; nada passava por ele despercebido.
Mais a frente uma clareira. Anormalidade. Areia? Enquanto ia se aproximando ia ficando mais claro o contorno circular. Não sabia o que tinha acontecido ali, mas com certeza aqueles três tinham algo a ver com aquilo. Um pequeno círculo no centro de toda aquela areia ainda detinha o verde de outrora. O que terá acontecido aqui? Pensou. Magia com certeza, mais ainda sim muito estranha.
Um rastro. Apenas um.
— Alguma coisa aconteceu aqui, com certeza. – disse passando a mão sobre uma única pegada na grama do círculo menor – Noroeste então! Prepare-se garoto, dessa vez não terei misericórdia. – Finalizou serrando o punho como uma promessa, rumando na direção de sua presa.

...

Daro e Tina se beijavam. Uma mão apalpava o peito enquanto a outra, a cocha. Tina suspirava ofegante com o coração acelerado entre beijos e apalpes. O primeiro estrondo; o segundo e o terceiro logo em seguida, assustaram os dois no clima quente.
— O que foi isso? – Esboçou Tina com o susto e ainda ofegante.
— Pelo visto aqueles dois acordaram! – respondeu Daro se recompondo – Melhor irmos acalmar as coisas por lá, antes que aqueles dois idiotas chamem ainda mais atenção. – Finalizou e saiu correndo puxando Tina pelo braço.
O pequeno casebre já estava em pedaços, e uma poeira fina ainda se mantinha no lugar. Katro se esforçava para manter a armadura de aura no braço esquerdo enquanto atacava Bis, que desviava facilmente dos ataques. A ferida do ombro direito de Katro se abriu, umedecendo as tiras de pano em seu ombro e tornando o vermelho ainda mais vivido que antes.
— O que vocês estão fazendo seus idiotas? – Gritou Tina ao chegar correndo e ver a situação em que a casa ficou. Katro parou o ataque seguinte de imediato ao ouvir a voz dela.
— Tina! Onde você estava? Você está bem? Eu pensei que... – Katro tentou se explicar.
— Viu só! Eu disse que não fiz nada. – Bis provocou, gerando um desconcerto ainda maior em Katro.
— Seu ombro... – Lamentou Tina ao ver a situação da ferida mais uma vez aberto pelo esforço demasiado.
— Não foi nada. Estou be... – Engasgou com a repuxada de dor.
— Bis, me ajude a pegar as coisas pra sairmos logo daqui. – Ordenou Daro, revirando os escombros que restara.
— Mas por que eu? Foi ele que começou. – Resmungou. Enquanto Tina retirava as tiras de pano com cuidado para olhar a ferida de Katro.
— Anda logo. – Ordenou Daro sem dar ouvidos ao resmungo.
— Taaa. – Bis resmungou uma última vez antes de ir ajudar Daro que já revirava os escombros atrás de suprimentos para a partida.

...

Gradian corria pela floresta, sempre rumo a noroeste, sempre sério e concentrado. A bagagem nas costas pareciam nada diante da velocidade que infligiam suas pernas. De repente ele parou, fazendo a bagagem bater na armadura de caça a qual vestia. Um barulho. Rapidamente ele subiu numa arvore para expandir o campo de visão. Longe dali uma sombra de poeira “provinda do barulho de agora pouco”, pairava alta.
— Achei vocês! – Pensou o comandante em voz alta, pulando da árvore logo em seguida apressando ainda mais o passo, com um sorriso maléfico no rosto.
As passadas aumentaram de forma extraordinariamente rápida, de modo que em poucos minutos já poderia avistar a presa. Logo à frente; só mais um pouco. A distância já estava tão curta que fez Gradian sacar sua espada.


...


— Todos prontos? – disse Daro com a bagagem já nas costas – Então vamos indo, antes que alguém apareça. – Finalizou fazendo frente à caminhada, lenta, devido ao estado de Katro, mas logo sendo interrompido por um estalar misturado ao barulho de arvores caindo ali perto. Todos voltaram os olhos para traz rapidamente com o susto do barulho repentino.
— Droga, já nos acharam! – Bis pensou em voz alta – Daro?
— Nem olhe pra mim, eu não fiz nada dessa vez! – se apressou na defesa – Devem ter sido atraídos pela bagunça que você fez. – Acusou gesticulando com as mãos diante dos escombros que restaram no lugar. Bis deu de ombros com a acusação.
— Enfim... Você consegue fazer de novo? – questionou – Só que dessa vez precisamos ir muito mais longe. – Completou com tranquilidade. Em seguida vários rastreadores foram aparecendo um após o outro fazendo o cerco.
— Fazer o que? – Tina entrou na conversa quase em desespero ao ver os rastreadores cercando-os.
— Você sabe que eu vou ficar inconsciente se eu tentar aquilo de novo, não é? – Daro respondeu Bis ignorando totalmente o questionamento de Tina. Enquanto isso, um homem de corpo esguio e com uma marcara de ferro retorcido se aproximava com naturalidade.
— Passou pela minha cabeça.
— E se não der certo você sozinho vai dar conta da situação?
— Daro... Acho que se não tentar, não daremos conta da situação nem todos juntos. – Finalizou Bis com temor nas palavras ao ver aquele homem magro se aproximar. O homem parou frente aos jovens com a mesma naturalidade com que caminhava.
— Entreguem a princesa e eu dou a minha palavra que suas mortes serão rápidas e indolores. – Disse o homem com uma voz grave e abafada pela mascara de ferro, estendendo a mão em seguida.
— Bis... Consegue ganhar algum tempo? – Daro sussurrou para o amigo, recebendo um aceno positivo de cabeça como resposta.
No mesmo instante Bis estalou os dedos fazendo um pequeno circulo de luz separando-os dos rastreadores. Logo depois ele estalou os dedos novamente e o circulo se expandiu como uma pulsação até a extremidade do cerco, transformando tudo em areia. Só o que restou foi o pó, mas antes mesmo que a poeira abaixasse os rastreadores se materializaram no mesmo lugar, bem como o homem magro com a mão estendida dando mais um passo a frente.
Daro se esforçava para fechar o circulo de luz que desenhava no ar com dois dedos. Ao fechar o circulo ele posicionou sua mão com a palma empurrando o centro do circulo com toda a força que tinha. O desgaste da ultima viagem agora se fazia visível diante do esforço exibido nas veias sobressaltadas que se entendiam do seu braço até a sua testa. “não vou conseguir muita coisa desse jeito” Daro pensou.
— Tina, traga Katro para perto de mim e fique aqui próximo. – Daro conseguiu exprimir para fora da boca com muito esforço. Tina se apressou com Katro escorado nela em uma situação não muito boa.
De repente o homem magro saltou para cima, por um instante parecendo voar de encontro a Tina.

*E.5.: Era dos 5
*1793: ano
*3/2: 3° dia da 2° quinzena
*VER.: verão



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