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segunda-feira, 28 de maio de 2018

A GERAÇÃO DE PRAGAS


PARTE 29

E.5.: 1793, 7/2 VER
ASCENÇÃO

Turdália(Leste do território Humano)


Os passos estralavam pelo piso do grande corredor. O homem grande e forte com uma capa e uma coroa na cabeça carregava consigo uma pequena escolta de seis soldados. Caminhavam a passos a passos largos como quem tem pressa pra chegar. As mãos estalaram nas grandes portas que se abriram num rompante de raiva. As chamas das várias tochas espalhadas nas paredes iluminavam o grande e luxuoso salão do trono. Alguém jazia sentado ao trono rodeado de guardas, feiticeiros e anciões.
— O que significa isso? – ralhou o homem ao ver outra pessoa sentada em seu lugar – Diga Takar, o que faz no meu trono seu insolente. Não pense que por ser meu filho irá se safar dessa. – Vociferou autoritário.
— Ora ora... Que recepção é essa meu pai? Seu herdeiro retorna para casa e é assim que o recebe? – Falou dissimuladamente, abrindo os braços.
— Que conversa é essa Takar?  Sabe muito bem que seu irmão é que vai herdar o trono. – Questionou o rei sem entender o significado daquelas palavras do filho.
— Em alguns dias serei. – Afirmou com voz firme.
— O que pretende fazer seu... – rosnou entre dentes avançando para cima de Takar ainda sentado no trono. Imediatamente os guardas sacaram suas espadas impedindo o avanço – Como ousam levantar armas contra seu rei? Abaixem já as suas armas guardas. É uma ordem. – vociferou o homem com a autoridade que lhe cabia, porém os guardas continuaram firmes de espada empunho – não serei piedoso com traidores. Larguem agora mesmo as espadas antes que eu considere um ato de traição. – Insistiu.
— Acho que o senhor não entendeu bem a situação, então vou explicar-lhe. – Takar se levantou e fez um gesto, logo os guardas que rodeavam o salão sacaram suas espadas cercando o rei, enquanto dois outros fecharam as portas. — Esta foi à mensagem que o senhor recebeu hoje pela manhã. – disse jogando o pequeno papel enrolado aos pés do homem cercado. — “Durante uma emboscada, ladrões roubaram todo o tributo advindo de Ashanor e o Príncipe Erick agora está morto. O capitão da guarda Lector único sobrevivente, agora segue viagem para relatar diretamente ao rei.” É claro que eu também recebi a notícia e devo chegar a Turdália ao pôr do sol de amanhã, onde lamentavelmente encontrarei meu pai, o rei, morto. Não aguentou a perda de seu primogênito e cometeu suicídio.
— Pelos Deuses... Eu criei um monstro. Você pretende matar a sua própria família para subir ao poder. – Murmurou o rei consternado.
— Não... Ladrões e suicídio – corrigiu – é que me colocarão no trono.  Agora vamos ao que interessa meu senhor, o seu suicídio. Vai cravar uma adaga no coração e ter um fim rápido, ou vai tomar veneno e agonizar até a sua trágica morte? – finalizou acenando com a cabeça para um ancião se aproximou do rei com uma adaga em uma mão e um pequeno frasco na outra – vamos, escolha a forma como será contada a sua história.
— No fim das contas o sangue bárbaro prevaleceu em você, bastardo! – Passou a mão na adaga saltando pra cima de Takar.
Sangue.
— Um fraco até o final!– sussurrou com a adaga cravada no peito do rei enquanto o via perder as forças até cair no chão – Aqui começa o meu reinado. Vamos indo, tenho que chegar aqui depois daqui a três dias pra receber a coroa. – Um sorriso sádico se manifestou em seu rosto com a cena. Assim que Takar se distanciou do castelo o sino começou a tocar.
Um rei havia morrido.
Na manhã seguinte o reino todo estava alvoroçado com a notícia da morte do rei. Era um bom governante, não cobrava impostos tão altos e não buscava guerras sem motivos.
Ao cair da noite chega Takar, o príncipe bastardo, que agora herdaria o reino. O príncipe havia galopado por três dias sem parar até chegar a Turdália, porem o cavalo parecia em ótimo estado, como se tivesse apenas dado um passeio a trotes. Mas isso passara despercebido já que as atenções estavam voltadas para as mortes na família real.
— Onde está meu pai? – perguntou Takar dissimuladamente ao descer do cavalo, como se nada tivesse acontecido. O conselheiro balançou a cabeça com um sinal negativo.
— Sinto muito meu príncipe. – O homem abaixou a cabeça – O conselho o aguarda meu senhor.
— Preciso ver meu pai antes. – Takar começou a caminhar.
— Seria melhor o senhor ir à sala do conselho meu senhor.
— Meu pai precisa de mim Verno, tenho que vê-lo agora mesmo. – Príncipe levantou a voz dissimulando raiva e angustia.
— É o seu pai meu príncipe... Ele está morto.

...

O salão já estava cheio de homens distintos de patentes e posições de respeito. Todos conversavam um só assunto, o suicídio do rei. O grupo se dividia entre os que acreditavam em conspiração e ato de guerra enquanto outros defendiam o fato de o rei ter tirado a própria vida. A pressa em coroar o novo rei era eminente e justificável. Um grande reino sem rei era uma grande tentação ao equilíbrio do poder em Asttatus. Os outros grandes reinos poderiam se sentir tentados a começar uma guerra. Mesmo um rei jovem e inexperiente já seria uma grande tentação. Algo assim já havia acontecido antes e todos sabiam o quão frágil é o equilíbrio do poder entre as raças.
A porta se abriu num rompante. Takar entrou na sala imponente e sério. Todos se calaram ao vê-lo.
— Alguém pode me explicar o que é que está acontecendo aqui? – indagou Takar com voz firme – Dois membros da realeza acabam de morrer. Alguém pode me explicar isso?_ ele terminou dando um soco na mesa aparentando estar muito irritado.
— O Rei Eurick recebeu um peregrino informando a morte do Príncipe Erick, e enlouqueceu tirando a própria vida em seguida. – Dilga se pronunciou com voz gaguejante.
— Eu já disse Eurick nunca faria uma coisa dessas. – o homem bem vestido se prontificou no mesmo instante – Eu conheço meu irmão e ele não era esse tipo de pessoa.
— Pelo que sei o senhor nunca perdeu um filho, tio Henrick. – Takar inferiu – Perdeu um irmão e já está falando em conspiração. Imagine perder um irmão e um pai ao mesmo tempo. – todos se entreolharam – O que aconteceu, aconteceu. Vamos tratar de dar funerais adequados a eles e depois resolvemos o resto. – Finalizou e saiu porta a fora.

...

O altar foi posto na frente do castelo, frente aos súditos como mandava a tradição. A guarda mantinha a multidão a certa distância. Todos os nobres alinhados desde o portão da frente do castelo até o altar, formando um corredor humano. O portão se abriu. Takar surgiu carregando o corpo do rei envolto num tecido branco imaculado. A tradição dizia que o primogênito e herdeiro é que devia carregar o corpo do pai, simbolizando que dali em diante ele é que carregaria o fardo e responsabilidades assumindo o lugar do morto, porém com o primogênito morto, sobrara apenas Takar, o bastardo que por ironia do destino agora era o herdeiro de direito.  Assim que Takar começou a andar as trombetas começaram a ecoar numa marcha fúnebre. Ele caminhou até o altar e pousou o corpo do pai sobre ele. Um dos soldados se aproximou e o entregou duas moedas de ouro, ele as pegou e colocou uma em cada olho do morto, deu dois passos para trás e outros soldados fecharam a coivara. O som das trombetas cessaram. Outro soldado o entrou uma tocha acesa. Ele se aproximou e ateou fogo, pondo fim ao reinado do rei Eurick.
— Vou fazer o que você não teve coragem. Colocar o reino humano no topo que é o seu lugar. – Sussurrou Takar em despedida ao seu antecessor.


*E.5.: Era dos 5
*1793: Ano
*7/2:7° dia da 2° quinzena
*VER.: Verão


sexta-feira, 11 de maio de 2018

A GERAÇÃO DE PRAGAS


Parte 28

PEQUENO GIGANTE

E.5.: 1793, 7/2 VER.

Vila das 3 pilastras (próximo do grande reino dos gigantes)


Um clima sério e meio triste pairou sobre Katro por uns instantes, então ele se levantou sem dizer uma única palavra e saiu tenda a fora deixando o velho Guros ajoelhado no chão.
A vila embora muito destruída já começava a parecer habitável novamente. Apesar de ser uma vila relativamente pequena, era a primeira vez que Katro via aquela quantidade de gigantes. O único gigante que conhecia era seu pai, era de se esperar que ficasse impressionado. Mais a frente havia um cercado onde a criação de mamutes da vila pastava serenamente como se nada tivesse acontecido. Ele escorou na cerca perdido em seus pensamentos, admirado com a beleza de sua terra natal e como era injusto não ter tido a oportunidade de crescer com aquilo, no meio de seu povo.
— Então você é um príncipe? – disse Bis se fazendo visível sentado na cerca ao lado de Katro – O que aconteceu? Por que seu pai não quis ser o rei? – Disparou a perguntação antes mesmo que o gigante se recuperasse do susto.
— Filho da puta. – o gigante se irritou e imediatamente agarrou o pequeno apertando-o com a mão direita – Então estava bisbilhotando é? Agora você vai pro inferno. – Finalizou arremessando o pequeno Bis para o horizonte como uma lança, fazendo o pequeno bisbilhoteiro sumir ao longe.
— Não devia fazer isso com o pequeno!
Katro se virou de repente com a voz vinda de trás de si. Mhrisnova assistira toda a cena.
— O que você tem a ver com isso? – Perguntou ríspido demonstrando que não queria companhia.
­— Ele ficou ao seu lado o tempo inteiro enquanto você esteve desmaiado e até foi procurar as ervas que precisamos para te tratar.
Katro se manteve calado com o olhar no horizonte.
— Eu não sou como o meu avô, não dou a mínima pra você ser o príncipe... – o comentário rendeu um olhar exasperado de Katro – Eu não o seguiria apenas por ser filho de quem é.
— Você não me conhece; não sabe quem eu sou; nem você, nem seu avô, e nem ninguém aqui sabe nada sobre mim. – Katro finalizou rude como sempre, dando as costas à Mhrisnova.
— E pelo visto nem você mesmo sabe quem é. ­– Ele interrompeu a passada por um segundo, mas depois foi embora sem dizer nada.

Daro jazia desacordado num leito. Sob sua testa tina punha um pano húmido que acabara de torcer.
— Acorde Daro! – Exclamou num supiro.
— Como ele está hoje? ­– Perguntou Mrisnova ao inrromper a tenda.  Tina fez que não com a cabeça.
— Ainda sem nenhuma reação. Ele sofreu muitos danos mas já era pra ter acordado.
— A quanto tempo ele está assim? ­– Mrisnova ainda não tivera tempo de perguntar sobre o grupo ou o que os havia levado até alí.
— Quatro dias.
— Ele deve ter tido uma batalha das boas pra ficar desse jeito. – Disse Mrisnova com uma ponta de inveja, mas receio de perguntar sobre.
— Nova, o chefe mandou te chamar. – Informou um jovem gigante à entrada da tenda.
— Já mando trazerem alguns remédios. Serve pra nós gigantes, deve fazer algum efeito no pequeno. – Mrisnova ascenou para Tina com a cabeça. Ao sair esbarrou com Katro. Os dois se entreolharam por um segundo e ela seguiu seu caminho.
Katro adentrou a tenda. Tina tentava uma magia de cura sem sucesso.
— O desgraçado parece não querer acordar. – Katrou falou ainda ríspido com o pensamento nos fatos de mais cedo, gerando um suspiro de cansaço de Tina. – Vá descansar um pouco princesa.
  Se ele acordar você me chame na mesma hora.– Ela instruiu ao sair bocejando de sono.
Katro observava atensioso a Daro. Parecia dormir tranquilamente apesar de tudo. Como se estivesse num daqueles sonos de depois de uma noitada regada a muita bebida e mulheres.
— Idash me contou do que você fez. Desgraçado, como ousa me humilhar daquela forma e ficar dormindo assim pra não prestar contas?– O orgulho falava, mas os olhos brilham húmidos.
Idash rompeu a entrada, todo enfaixado e escorado em uma muleta.  Ele percebeu o sentimento de Katro, mas decidiu ignorar para manter a integridade do irmão de batalha. No mesmo instante Katro se fez gigante orgulhoso e inabalável se recompondo.
— Estamos diante de um gigante de alma.– disse Idash, se sentando ao lado de Katro e servindo cerveja ao amigo.
— Deverás meu amigo, um pequeno gigante. – Katro concordou ergendo a caneca recebida num brinde ao desacordado. Idash repetiu o gesto e beberam tudo num gole como um brinde de gigantes deve ser.


*E.5.: Era dos 5
*1793: ano
*7/2: 7° dia da 2° quinzena
* VER.: Verão